Unifesspa: Reitor nomeado por Bolsonaro pretende permanecer no cargo em meio a controvérsias

Último colocado da lista tríplice formulada em 2020, Francisco da Costa foi a escolha do então presidente Jair Bolsonaro para a reitoria da Unifesspa, mas a decisão causou uma enorme crise interna que ainda hoje tem reflexos na vida acadêmica
Prof. Francisco Ribeiro da Costa diz que vai concorrer a um segundo mandato à frente da Unifesspa, mas a ideia não parece ser bem aceita pela comunidade acadêmica | Foto: Reprodução/Portal Debate

MARABÁ, SUDESTE DO PARÁ — Passados quase quatro anos da nomeação do professor de Geologia Francisco Ribeiro da Costa ao cargo de reitor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), a comunidade acadêmica volta a debater os rumos da maior universidade pública do interior do estado, com a expectativa de restaurar a democracia no âmbito institucional. Francisco da Costa, que obteve apenas 6,9% dos votos de alunos, professores e técnicos, mas acabou escolhido pelo então presidente da República Jair Messias Bolsonaro, tem dito que será candidato à reeleição, mesmo que semanticamente o uso da palavra “reeleição” seja alvo de questionamentos da comunidade acadêmica, posto que Francisco não foi eleito para o cargo, ficando em terceiro lugar na lista tríplice resultante da consulta de 2020.

A gestão de Francisco tem sido marcada por críticas e resistências no meio acadêmico, com questionamentos sobre sua legitimidade e desempenho à frente da instituição ao longo dos últimos quatro anos. A comunidade acadêmica observou a escolha do atual reitor como um arroubo autoritário do então presidente Jair Bolsonaro, dada a nomeação contrária à sua preferência expressa na eleição de 2020. Apesar do cenário conturbado, Francisco da Costa tem compartilhado sua intenção de participar da consulta à comunidade acadêmica para compor a lista tríplice que será enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para a escolha do novo reitor para o quadriênio 2024/2028, o que deve acontecer ainda este semestre.

A Unifesspa, que recém completou 10 anos, realizará essa consulta à comunidade acadêmica pela terceira vez — a mesma já ocorreu em 2016 e 2020 —, de forma a determinar os três nomes que serão remetidos à apreciação da Presidência da República. Na última consulta, o Prof. Dr. Maurilio de Abreu Monteiro, então reitor da Unifesspa e candidato à reeleição, obteve 84,4% dos votos da comunidade acadêmica, sendo seguido pelo professor Fábio dos Reis Ribeiro de Araújo, que finalizou a apuração com 8,7% dos votos.

O professor Francisco Ribeiro da Costa, que obteve 6,9% dos votos, ficou em terceiro lugar e acabou sendo escolhido por Bolsonaro, escandalizando toda a Unifesspa e até ele próprio. A votação, na qual podiam votar docentes, alunos e técnicos, ocorreu na modalidade on-line, pelo Sigaa, devido à pandemia da covid-19.

Francisco anuncia para seu círculo próximo sua pré-candidatura à recondução na disputa deste ano. Ou seja, o atual gestor quer continuar ocupando o posto de reitor da Unifesspa, mesmo diante da oposição expressiva que ainda encontra dentro da Universidade. Membros da comunidade acadêmica da Unifesspa, incluindo professores, pós-graduandos, graduandos e técnicos administrativos, questionam o fato de Francisco ter anunciado sua pré-candidatura à reeleição sem sequer ter sido eleito.

Avaliação

A reportagem do Portal Debate procurou alunos, docentes e técnicos da Unifesspa para ouvir diferentes visões acerca de como a comunidade acadêmica enxerga a gestão de Francisco da Costa nos últimos quatro anos à frente da maior universidade pública do sul e sudeste do Pará.

Para a maioria dos entrevistados pelo diário jornalístico, o reitor é responsável por um atraso estrutural em diversas áreas da Universidade e citam como uma das principais dificuldades de sua administração o problema do transporte da comunidade acadêmica entre as unidades do Campus de Marabá.

A reportagem tomou conhecimento de que o reitor supostamente usufrui da estrutura de veículos locados pela instituição para se deslocar entre as unidades da Unifesspa e até mesmo para sua residência particular em Marabá, fazendo uso pessoal dos veículos da Unifesspa. A prática viola os princípios administrativos da moralidade e impessoalidade, enquanto os alunos sofrem com a falta de transporte para estudar.

Os discentes consultados pelo Portal relembram ainda o fato de Francisco da Costa não ter sido eleito pela comunidade, sendo um indicado contra a vontade da maioria dos alunos, professores e técnicos, o que consideram um “duro golpe contra a democracia e a autonomia da Unifesspa”.

Oposição

Francisco da Costa deve enfrentar na consulta à comunidade acadêmica, prevista para ser realizada ainda no primeiro semestre deste ano, os professores Maurilio de Abreu Monteiro e Idelma Santiago da Silva, que podem formar uma chapa, assim como na votação de 2020. Entretanto, a decisão final sobre as candidaturas cabe ao Conselho Superior. Um vídeo postado pelo ex-reitor Maurilio em seu perfil no Instagram, que reproduz uma reportagem da época em que Francisco foi nomeado por Bolsonaro contra a vontade da maioria, conta com diversas manifestações de apoio de professores, alunos e técnicos.

Nos comentários da postagem, a acadêmica de Pedagogia Debora Bento afirmou: “Uma perda inestimável para nós. Ainda vivendo os vestígios do pesadelo pelo qual atravessamos 4 anos”, reagindo com emoji de tristeza.

O professor Giliad Souza Silva comentou: “Democracia e autonomia são valores muito caros para não levarmos em conta. Por mais democracia na Unifesspa!”, e o ex-reitor Maurilio respondeu: “concordo, a autonomia e a democracia devem ser sustentadas em nossa Universidade, sob pena de a Instituição ser capturada por interesses alheios aos da comunidade acadêmica. Para tanto é necessário manter ativos e atuantes os espaços de debate e decisões da Unifesspa”.

O professor Leandro Graziosi foi mais firme: “Precisamos do retorno de uma democracia real, não a midiática nesta universidade”.

O também professor Jarbas Carneiro escreveu na postagem: “Breve a Unifesspa voltará a ter uma reitoria que represente os interesses da maioria da sua comunidade acadêmica. Recuperar e defender a democracia deve ser um exercício contínuo da nossa prática cotidiana!”

DCE se isenta

Procurado pela reportagem do Portal Debate para se manifestar sobre como observa a atual administração da Unifesspa e o cenário que se apresenta para a consulta à comunidade acadêmica, o presidente do Diretório Central dos Estudantes José de Ribamar (DCE-JR), Carlos Eduardo Páscoa Alves, pediu um tempo para que os cerca de 30 membros do coletivo estudantil pudessem realizar uma reunião e deliberar sobre como o grupo daria essa resposta.

O tempo foi concedido e, horas depois, o representante estudantil enviou a seguinte nota: “O DCE-JR afirmou que há questões pertinentes ao processo democrático em debate. Neste momento, optamos por não tomar uma posição definitiva, mas estamos abertos ao diálogo e pretendemos avançar no debate interno com nossas bases ao longo do ano”.

Unifesspa enrola

O Portal Debate também procurou a Assessoria de Comunicação da Unifesspa para um posicionamento sobre os temas, mas o professor Dom Condeixa de Araújo, que atualmente responde pela Ascom da Universidade, passou mais de 24 horas sem produzir uma resposta definitiva. Em meio a várias desculpas, alegou que o reitor Francisco da Costa estava em outro campus, que a internet estava ruim e tentou ainda sugerir à equipe como a reportagem deveria ser feita, afirmando que o Portal só teria “informações equivocadas”. Porém, a reportagem tomou conhecimento de que Francisco da Costa estava em seu gabinete, situado na Unidade III da Unifesspa em Marabá, na tarde desta segunda-feira (26), ao mesmo tempo em que o assessor de Comunicação alegava não conseguir contato com o reitor.

Questionado sobre a falta de transporte para os acadêmicos, Condeixa afirmou que essa é uma responsabilidade da Prefeitura de Marabá e não da Unifesspa. Dom Condeixa confirmou ainda que os professores Maurilio de Abreu Monteiro e Idelma Santiago da Silva devem formar uma chapa para a disputa acadêmica, pelo menos de acordo com as informações que circulam na Universidade, mas que os nomes ainda não foram decididos pelo Conselho Superior. Ele também garantiu que não tem lado nessa disputa e que responde apenas em nome da Unifesspa, e não em nome do reitor Francisco da Costa.

A reportagem solicitou nota oficial do assessor de Comunicação da Unifesspa, Dom Condeixa, mas essa solicitação não foi atendida, mesmo com a ampliação do prazo final pelo Portal Debate. Nossa equipe também tentou contato telefônico com o reitor e com o chefe de Gabinete da Reitoria, mas as ligações aos números indicados no site institucional — (94) 2101-7101 e (94) 2101-7150 — não se completaram. O espaço segue aberto para manifestação.

Sobre a Unifesspa

A Unifesspa foi criada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 5 de junho de 2013, através da Lei Federal 12.824, a partir do desmembramento do Campus Marabá da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Com uma estrutura multicampi, a Unifesspa está presente em Marabá (sede), Rondon do Pará, Santana do Araguaia, São Félix do Xingu e Xinguara. Sua área de abrangência vai além dessas cidades, envolvendo os 39 municípios da mesorregião do sul e sudeste do Pará. (Portal Debate)

Relacionados

Postagens Relacionadas

Nenhum encontrado

Cadastre-se e receba notificações de novas postagens!