Pandemia aumentou o número de casamentos infantis

Segundo a Unicef, atualmente cerca de 12 milhões de meninas se casam no mundo antes dos 18 anos, e a pandemia está aumentando esse número

“Naquele momento, todos os meus sonhos foram destruídos.” Assim a indiana Sunita, 16, descreve como se sentiu ao descobrir que seria forçada a se casar e deixar a escola, aos 12 anos. Hoje ativista pelos direitos das meninas em sua comunidade, ela deu seu depoimento à ONG Save the Children.

A cada ano, 12 milhões de garotas têm a infância abreviada por serem obrigadas a se casar cedo demais. Esse cenário vem melhorando, e nos últimos dez anos a proporção de mulheres comprometidas antes dos 18 anos no mundo caiu de 1 em cada 4 para 1 em cada 5.

Mas agora a tendência de queda está ameaçada pela pandemia. Um estudo do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) estima que a crise sanitária deve empurrar 10 milhões de meninas para casamentos precoces na próxima década. Esse número se somará aos 100 milhões já previstos anteriormente para o período, correndo o risco de reverter um progresso de 25 anos de redução do índice.

O tema virou motivo de preocupação de várias entidades, inclusive no Brasil –quarto país do mundo com mais casos–, e até do Banco Mundial, que já estimou que os casamentos infantis farão os países em desenvolvimento perderem trilhões de dólares até 2030. Segundo a ONG Visão Mundial, o aumento no número de casamentos infantis já está sendo sentido desde o ano passado. De março a dezembro de 2020, suas equipes receberam mais do que o dobro de chamados para atuar em casos do tipo do que no mesmo período de 2019.

Já a Save the Children divulgou que a pandemia levou a um aumento de ao menos 1 milhão no número de meninas grávidas em 2020 –um dos maiores motivadores do casamento precoce, que afeta muito mais mulheres que homens.

Dos 12 milhões de garotas que se casam anualmente, 2 milhões têm menos de 15 anos. “E essas são apenas as que nós conhecemos. Acreditamos que seja o topo do iceberg”, afirma a organização. Como muitas uniões não são oficializadas – e essa informalidade é maior na América Latina e no Caribe –, os números reais provavelmente são bem maiores.

Além de afetarem diretamente a saúde das pessoas, epidemias frequentemente têm efeito desproporcional sobre mulheres e meninas, diz Rita Soares, diretora de aprendizado e impacto da organização Girls not Brides. (Folhapress)

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