A possibilidade de presença da variante indiana da covid-19 no Pará acende um alerta para uma possível terceira onda da pandemia que pode, inclusive, ser pior do que a segunda. Apesar de o estado ainda não possuir nenhum caso confirmado — apenas dois suspeitos que estão sendo levantados pelo Instituto Evandro Chagas —, médicos e pesquisadores afirmam que, uma vez que a nova cepa B.1.617 chegou ao Brasil — casos foram confirmados no Maranhão, em São Paulo e no Distrito Federal até a tarde desta quarta-feira (26) —, ela deve se espalhar rapidamente por todas as unidades da Federação caso não sejam adotadas medidas de contenção. O governador Helder Barbalho (MDB) já suspendeu a circulação do trem de passageiros da Vale na Estrada de Ferro Carajás (EFC), mas o controle dos acessos rodoviário e aeroportuário também constitui medida urgente.
Na última quinta-feira (20), o Governo do Maranhão confirmou a detecção em seu território de seis pessoas infectadas com a nova variante da covid-19 descoberta na Índia. Eles eram tripulantes do navio MV Shandong da Zhi, ancorado no estado, e são os primeiros casos da cepa B.1.617 no Brasil. Um dos infectados segue hospitalizado, em estado grave — outros já tiveram alta ou não precisaram ser internados.
Sem realmente sair da segunda onda da pandemia, o Brasil se vê frente à possibilidade de passar por um terceiro pico na crise sanitária. O número de mortes por covid-19 vem decrescendo há sete semanas, mas os novos casos estão subindo há um mês, e a chegada da linhagem indiana tem potencial para piorar o cenário.
A cepa indiana possui três vertentes, identificadas entre outubro e dezembro do ano passado, e já está em 53 países de todos os continentes. Não é possível concluir que ela é a única responsável pelo caos que atinge a Índia desde abril, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a variante um risco global.
No Brasil, ela chega em um momento de alta diária de infectados. A média móvel de novos pacientes cresce há mais de dez dias seguidos, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). No Pará, mais de 75% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nos hospitais públicos estão ocupados. A ocupação nas enfermarias está na faixa de 50% há algumas semanas, o que alerta para o risco decorrente da possível chegada da B.1.617 ao estado.
Nesta terça-feira (25), o Pará registrou mais 199 casos e 11 mortes que ocorreram nos últimos sete dias. Em relação à subnotificação das prefeituras, o estado confirmou 1.001 novos casos e 29 mortes ocorridos em dias anteriores. Com isso, o estado soma 509.926 casos confirmados e 14.304 mortes desde o início da pandemia, em março de 2020.
Novo patamar
O doutor em Saúde Coletiva e membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) Dário Frederico Pasche explica que ‘degraus’ é o termo mais adequado para os índices de infecção no País. “O que temos, no momento, é possibilidade de um terceiro degrau. Se olharmos para este novo patamar, dá para observar que nunca voltamos à situação inicial de índices. Ocorre, na verdade, um agravamento [subida de degraus] do número de casos e óbitos pela doença”, pontua.
O virologista e professor do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB) Bergamann Ribeiro diz ser natural que todo vírus sofra mutações. “Quanto mais pessoas infectadas, a tendência é que novas variantes apareçam. A maioria dessas mutações não favorece os vírus, pois quando invade a célula hospedeira não consegue reproduzir o código genético corretamente. No entanto, outras mutações beneficiam, pois ele consegue mudar a conformação de suas proteínas e entrar com mais facilidade na célula hospedeira e ou até mesmo se multiplicar mais rápido”, explica.
Bergamann aponta que, até o momento, o que se descobriu sobre a variante indiana é a possibilidade de o vírus ser mais transmissível, e não mais letal, dada a capacidade dele lutar pela sobrevivência e se adaptar no corpo do hospedeiro. “É difícil dizer que o vírus é mais letal ou não, pois é necessário um número expressivo de dados e estudos para validar com essa hipótese”, comenta.
O virologista também explica que a vacina ajuda a barrar a interação do coronavírus no organismo, mas que a demora na imunização favorece a replicação do agente, inclusive de novas cepas. “No entanto, sem vacina, mais pessoas estarão expostas à infecção pelo vírus, inclusive às novas variantes. Mesmo com primeira dose, ocorre uma pressão de seleção para que o coronavírus consiga mudar ainda mais”, destaca.
Vacinas contra covid-19 usadas no Brasil
Oxford/Astrazeneca
Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
CoronaVac/Butantan
Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.
Janssen
A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.
Pfizer
A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.
(Vinícius Soares, do Portal Debate Carajás, com informações de G1, Valor Econômico, O Globo, Correio Braziliense e Estado de Minas)