Nojo e indignação. Palavras que retratam o sentimento da comunidade de Vila Santana, na interseção dos municípios de São Domingos e São João do Araguaia, diante do descaso da empresa concessionária de água com a presença ainda mais frequente de abutres no sistema de fornecimento.
De acordo com a moradora Maria Sampaio, que procurou o Portal Debate Carajás, as duas caixas-d’água, de 30 mil litros, responsáveis pelo fornecimento da vila estão destampadas há mais de um ano. Desde então, urubus e outras aves têm feito dos recipientes sua piscina particular.
Conforme Sampaio, o problema já foi denunciado diversas vezes à empresa fornecedora de água, qual seja a BRK Ambiental Araguaia Saneamento S/A, mas o retorno pretendido nunca foi alcançado. Nos últimos dias, em virtude de uma suposta falta d’água, um morador descobriu que, em verdade, era a encanação da casa que estava entupida.
Distante de uma mera ocorrência, ao abrir a encanação, intrigado, o morador encontrou o sistema de fornecimento em condições degradantes, repleto de ossos de urubu, acredite se quiser. Foi a gota d’água.
“O vizinho estava com dois dias sem água. Ele achou estranho, porque os outros moradores tinham água nas torneiras. Quando ele resolveu cavar para abrir a encanação, encontrou as ossadas lá, entupindo a passagem da água dele”, denuncia Sampaio.
Ela narra que a comunidade está planejando ir ao Ministério Público Estadual formalizar denúncia contra a concessionária de água caso o problema não seja solucionado. “Porque nós pagamos caro e não estamos tendo água de qualidade. Nós temos como provar”, alega.
Para Sampaio, a empresa faz pouco caso com a situação das caixas destampadas e da encanação deteriorada porque teoricamente acredita na ignorância das pessoas residentes em Vila Santana. “Isso não pode continuar dessa forma”, exclama.
Riscos à saúde
Em contato com repórter do domínio, o infectologista Dalcy de Oliveira Albuquerque Filho, membro da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, alerta para os riscos de deixar destampado um reservatório de água para o consumo humano. “Primeiramente, isso pode se tornar um criadouro do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e outras doenças [zikavirose, chikungunya e febre amarela]”.
“O outro risco são as infecções intestinais que podem acontecer. Se esses animais estão tendo acesso a esse reservatório, provavelmente estão soltando dejetos na água. Nada impede que os urubus carreguem um pedaço de animal morto e esse pedaço caia na água. Se esses animais estão tendo contato com a água, então essa água está imprópria para o consumo humano”, sustenta Albuquerque.
O outro lado
Procurada pelo e-mail destinado ao atendimento à imprensa, a BRK Ambiental, que é uma empresa nacional presente em mais de 100 cidades e que atende 15 milhões de habitantes, argumenta em nota que “monitora sistematicamente a qualidade de água potável fornecida à população e assegura a sua qualidade, em atendimento aos padrões de potabilidade definidos pelas autoridades”.
“O reservatório objeto da matéria está fora de operação e não é utilizado para a distribuição de água sendo que a sua remoção já está programada. A empresa esclarece ainda que mantém equipes operacionais de prontidão para atendimento aos clientes de Vila Santana e qualquer pessoa que tenha dúvidas ou necessite de um serviço pode entrar em contato com a concessionária por meio do 0800 6440 295. A ligação é gratuita e a linha está disponível 24 horas por dia”, finaliza a nota.
Também contatada pelo Debate Carajás, a Prefeitura Municipal de São Domingos do Araguaia, que é o município a que responde a BRK, garante que deve remeter ofício à concessionária solicitando intervenção no problema não só das caixas-d’água destampadas, mas também da encanação afetada. (Vinícius Soares/Debate Carajás)
Esta matéria foi atualizada às 12h50 de 9 de março de 2021 para acréscimo de nota da concessionária
