Jornalista vai à polícia por difamação em Marabá

Entidades do município e até do estado desagravaram o ruidoso episódio envolvendo a classe artístico-empresarial e se comoveram com a também apresentadora de televisão

Matéria de ampla repercussão veiculada pelo Portal Debate Carajás nesta quinta-feira (18) levou a jornalista e empresária Angélika de Melo Freitas e Souza a procurar a Polícia Civil de Marabá para representar contra comentários ofensivos à honra e à integridade dela tecidos por ex-colega de emissora em rede social. Entidades do município e até do estado desagravaram o ruidoso episódio envolvendo a classe artístico-empresarial e se comoveram com a também apresentadora de televisão.

Narra termo de declaração de ocorrência registrado na Superintendência Regional de Polícia Civil (10ª Risp Carajás) que Angélika reside em Marabá há dez anos e integra o quadro de funcionários de um conglomerado midiático local há quatro. Nele, conheceu o também apresentador Edson Santos, autor dos ataques virtuais, com quem dividiu redação até 2019. Foi nesse ano que Edson teria sido desligado por justa causa da equipe, após ultrajar Angélika em procedimento análogo, via grupo de WhatsApp com os patrões.

Depois do episódio desastroso de demissão por justa causa do profissional em função de excesso em grupo de mensagens, narra Angélika, o ex-colega mudou o domicílio para Altamira, distante 500 quilômetros, mas posteriormente regressou a Marabá para trabalhar em emissora de televisão concorrente.

Ainda no documento, Angélika alega que as ofensas pessoais proferidas nos áudios pelo ex-colega, motivado teoricamente por vingança, ainda que tardia, estão causando a ela grandes prejuízos emocionais e econômicos, visto que atua na área da comunicação e precisa manter a imagem intacta. Ela também sustenta que o episódio rumoroso pode afetá-la em diversos contratos que possui, bem como a empresa em que exerce a profissão e ganhou notoriedade.

Angélika abriu queixa-crime – modalidade de ação penal privada que carece de representação do ofendido e de advogado em tempo adequado para ser acolhida – contra o ex-colega de equipe por difamação. O crime contra a honra é tipificado no artigo 139 do Código Penal e prevê pena de reclusão de três meses a um ano, além de multa, para quem por ele é sentenciado.

Digitalização de boletim de ocorrência registrado por Angélika nesta 5ª

Além disso, a apresentadora de TV registrou, sob orientação do advogado Paulo Sérgio Martins Rodrigues, boletim de ocorrência junto às autoridades policiais com a transcrição literal dos áudios ressoada também neste portal de notícias. No relato há, inclusive, link para a matéria difundida pelo veículo nas primeiras horas de quinta e que testificaria o crime de difamação.

Ao repórter do Portal Debate Carajás, por meio de longa narrativa que também postou em seus perfis sociais, Angélika prometeu acompanhar atentamente o desenrolar da ocorrência policial para, em seguida, ingressar na Justiça com ação contra Edson Santos. Ela deseja a punição do ex-colega de emissora.

“Como mulher, mãe de duas filhas, ainda me indigno que em pleno ano 2021 ainda tenhamos que nos deparar com ofensas como essas de cunho pejorativo e que colocam em cheque (sic) nossa reputação caráter e sobretudo, profissionalismo. Agradeço à (sic) todo apoio que venho recebendo ao longo do dia, solidariedade essa resultado de um trabalho sério e comprometido realizado há quase duas décadas em nossa região. Agradeço todo carinho, compreensão e amor que tenho recebido de meus colegas de profissão, as grandes marcas que me acompanham, a minha equipe e acima de tudo à minha família que não precisava passar por isso. Ao meu marido, meu melhor amigo e que está há 17 anos ao meu lado, toda minha gratidão e amor e aos meus pais por terem vivido toda uma vida para me dar uma educação digna e que me trouxe até aqui”, escreveu.

Manifestações de apoio à âncora de telejornal foram aparecendo durante o dia

Reações

Entidades do município, entre as quais o Conselho de Jovens Empresários da Associação Comercial e Industrial de Marabá (Conjove/Acim), o Conselho da Mulher Empresária de Marabá (Acim Mulher) e até o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher (Comdim), desagravaram o episódio envolvendo Angélika Freitas. O Grupo Correio de Comunicação também se manifestou em nota reprovando a atitude do ex-colaborador. A Associação dos Bares, Casas Noturnas, Conveniências, Distribuidoras, Lanchonetes, Músicos, Artistas e Similares do Estado do Pará (Abarma) foi outra que rechaçou o que classifica de acusações infundadas.

Em nota assinada pela presidente Kessiana Soares, o Conjove se solidariza à apresentadora e jovem empresária vítima de ofensas nas redes sociais. O texto também refere que, quando diretora do órgão permanente da Acim, Angélika desenvolveu trabalho de excelência. “Pessoa íntegra, esposa e mãe exemplar, sua reputação jamais poderá ser abalada por falas machistas e medíocres de pessoas vaidosas e irresponsáveis. Cabe falar que nós, mulheres, sofremos, ao longo do tempo, ofensas de cunho pejorativo, sempre colocando em xeque nossa reputação e caráter. Não podemos nos calar diante de tamanha arbitrariedade. Angélika, o CONJOVE te abraça e te apoia”.

Ainda na seara empresarial, na qual Angélika milita há tempo suficiente para colecionar admiradores, a Acim Mulher repudiou com veemência os ataques “desferidos de maneira pusilânime por certo apresentador de TV local, em grupos de WhatsApp, em mensagens infames, difamatórias e caluniosas”. A nota continua: “Tais ataques não atingiram somente à mulher, mãe, empresária e profissional de respeito, atingiram também a todas as mulheres da sociedade marabaense, sobretudo pela forma discriminatória e preconceituosa como foram feitos.” O conselho categorizou os ataques como machistas.

A presidente do Comdim, Cláudia Cilene Alves Araújo, procurou repórter do Portal para remeter manifestação de apoio a Angélika. No texto, a diretoria executiva do conselho se solidariza à profissional da comunicação e missionária da Comunidade Católica Casa da Juventude (CAJU), da Paróquia São Francisco de Assis. “A violência contra a mulher existe em todos os ambientes. Precisamos denunciar e não permitir que o machismo estrutural continue fazendo vítimas. Angélika, o Comdim está com você e sua família.”

O Grupo Correio de Comunicação, empresa para a qual Angélika trabalha há quatro anos, fez a mais longa reparação sobre o caso. A nota também cita o apresentador e radialista Marcinho Lira, alvo de críticas menos graves do ex-colega de trabalho nos áudios reproduzidos pelo WhatsApp. “Os áudios não só exprimem opinião e divergência sobre um tema, mas avançam ao ataque às condutas pessoais e à honra destes dois companheiros e colegas de profissão. Vai além, ao usar termos de baixo calão, reprováveis e que, reproduzidos e divulgados em larga escala como estão sendo nas redes sociais, maculam de forma irreparável a imagem dos dois jornalistas.”

O texto segue: “Tal ocorrência é inaceitável, atinge a pessoa humana e nos atinge a todos como colegas de profissão e de trabalho no cotidiano. Nossos colegas, em especial Angélika Freitas, que é citada de forma pejorativa e tem sua honra e conduta pessoal atacadas, já ingressaram com medidas no âmbito legal, para exigirem a reparação a que têm direito e para que tal ocorrência não fique sem a resposta à altura da difamação.”

Por fim, o grupo de comunicação diz apoiar “ações de cunho social e humanitário, como a do evento de arrecadação para os músicos” e repele o “uso das redes de forma odiosa”, renovando apoio e confiança na moral e na conduta de Angélika e Marcinho.

A Abarma foi outra que condenou o que classifica de acusações infundadas do apresentador de TV. A nota de repúdio e indignação é assinada por Jadwilson Sousa dos Santos, o Jader Santos, presidente da associação em nível estadual. Na publicação, o corpo de músicos, proprietários de bares e similares pondera que é pautado na seriedade e no compromisso com a verdade, atuando “de forma veemente a garantir a manutenção do trabalho e sustento de todos os assistidos, principalmente neste momento, em meio a uma crise econômica”.

A associação também garante que a live solidária de sábado (20) acontecerá, com apoio cultural da Correio FM e da TV Correio, afiliada do SBT. O objetivo, argumenta, é “ajudar os músicos, artistas, garçons e similares que estão passando reais dificuldades neste momento de pandemia devido ao fechamento dos bares e paralisação de suas atividades”.

Edson Santos foi duro em críticas principalmente à ex-colega Angélika Freitas

Entenda

Na noite de quarta (17), áudios atribuídos ao comunicador Edson Santos incendiaram o meio artístico em Marabá. Neles, o âncora de telejornal criticava a organização de uma live solidária de artistas locais, em face das restrições impostas pela pandemia, por divulgar em flyer que os apresentadores seriam Marcinho Lira e Angélika Freitas.

Edson Santos chegou a ofender os colegas da emissora concorrente, que era mencionada como uma das apoiadoras da transmissão ao vivo, gozando de palavreado chulo em três áudios com duração, somada, de seis minutos. No primeiro áudio, de apenas 20 segundos, ele disparou:

“Vão fazer uma live e colocam no flyer o Marcinho e a Angélika. A única coisa que a Angélika fez pela música em Marabá foi f*** com todos os pagodeiros da cidade. Ela deu pra (sic) todos. E eu não tô (sic) pedindo segredo pra (sic) ninguém, não. Eu quero é que vá tomar no c*”.

Em seguida, Edson revelou dissabor com a recém-criada Abarma pelo convite, não comunicado previamente a ele, de Marcinho e Angélika. Ele prometeu organizar live própria para os músicos e apontou, no ensejo, o pensamento para os proprietários de bares.

“Os caras vão organizar uma live e pegam o Marcinho e a Jhenefer [que seria Angélika] e nem sequer me falaram. Eu fiquei sabendo disso hoje. Cara, eu fiquei puto. Mas, assim, deixa eles se f*** pra lá. Eu vou fazer uma live dos músicos, só dos músicos. Não quero saber de dono de bar. Eu quero que dono de bar vá pra (sic) casa do c***. Eu vou fazer uma live dos músicos, que é a galera que tá precisando”, arrazoa.

Para Edson Santos, o motivo de maior frustração com os membros associados foi ter sido preterido da apresentação da live e visto de longe convite a Marcinho e Angélika para tal finalidade, a quem ele alegou nenhuma luta ter encampado pelos artistas locais no ápice da pandemia.

“A galera dessa associação foi tão sórdida que sequer me comunicou, olha só. Quem tá aqui nesse grupo e me conhece sabe que eu comprei essa causa lá atrás. Meti a cara, fui a reuniões, falei no meu programa, defendi a causa e sequer, minha gente, me comunicaram desse convite. Chamaram o pessoal do SBT; meteram o meu parceiro Marcinho Lira na parada. Eu fiquei sabendo disso hoje. Eu achava que fazia parte [da associação] pela qual estava brigando, metendo a cara e me desgastando com a emissora que paga o meu salário pra poder defender”.

Em contato com repórter do Portal, Edson Santos se retratou do episódio. Disse que a figura do apresentador de televisão foi envolvida na contenda de maneira irresponsável, sendo que nos áudios falava um profissional da música e, além disso, um cidadão descontente com os rumos de uma associação que defendeu incondicionalmente nos momentos mais duros.

Edson destacou que a esposa é artista e, por este motivo, operava tão diligentemente na área. Relatou ter gravado os áudios para um grupo de músicos e não esperava repercussão midiática do caso. Ele foi adiante ao declarar, também, que parcela dos áudios divulgados fora forjada, e se dispôs a fazer perícia de modo a provar a alegação.

Questionado pelo repórter quanto à data de possível realização da live que prometeu para arrecadar donativos aos músicos, Edson Santos transmitiu ter perdido a motivação de se empenhar na causa dos profissionais, que amargam prejuízos desde o início da quarentena, em março passado. Por isso, nenhuma live organizada por ele deve acontecer nos próximos dias, como anunciado. (Vinícius Soares/Debate Carajás)

Atualização às 19h12

A Comissão de Mulheres do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) fez chegar à Redação do Portal Debate Carajás na noite desta sexta a seguinte nota sobre o caso:

“A Comissão de Mulheres do Sindicato dos Jornalistas do Pará repudia a violência moral e psicológica sofrida pela jornalista Angélika Freitas, Diretora de Jornalismo do Grupo Correio de Comunicação, da cidade de Marabá. O autor dos ataques foi o comunicador Edson Santos. Em áudios que foram divulgados em grupos de WhatsApp desde a noite de quarta-feira (17) , Santos critica o fato de Angélika ter sido escolhida para apresentar uma live solidária de artistas locais e ofende a jornalista com palavras de baixo calão.

Diante dos ataques e da violência sofrida, Angélika Freitas, acompanhada de seu advogado, registrou, na quinta-feira (18) Boletim de Ocorrência junto à Polícia Civil do Estado, na Superintendência Regional do Sudeste do Pará – 10⁰ RISP Carajás e queixa-crime junto ao agressor.

A Comissão de Mulheres do Sinjor-PA presta total solidariedade à jornalista e seguirá junto com Angélika Freitas acompanhando o caso para assegurar que o agressor não fique impune. Não podemos permitir que mulheres, sobretudo jornalistas, continuem sendo alvo frequentes de violências baseadas na matriz moral de uma cultura machista que estabelece relações de poder e posse e reforça o sentimento de desprezo dos homens contra as mulheres. Machistas e misóginos não passarão!

Exigimos respeito, por Angélika e por todas as jornalistas.”

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