Índios Mundurukus pedem expulsão de garimpeiros ilegais ao MPF: ‘Estamos ameaçados’

Crédito: Greenpeace

Uma carta do povo indígena Munduruku foi enviada ao Ministério Público Federal (MPG), que recebeu o documento na última quara-feira, 27. Os Mundurukus pedem a expulsão de garimpeiros ilegais de seus territórios tradicionais, onde a invasão de garimpos vêm se expandindo, provocando severos danos ambientais e levando tráfico de drogas, tráfico de armas e prostituição para muito perto das aldeias.

“O território que pela Constituição deveria ser de usufruto exclusivo dos munduruku está servindo para o lucro de pessoas de fora da terra indígena”, disse Ademir Kaba, uma das lideranças que entregou a carta ao MPF.

Os indígenas fizeram uma reunião de emergência nos dias 20 e 21 de agosto, entre caciques, guerreiros, professores e associações, após a visita do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, à cidade de Jacareacanga, no início do mês, em que ele conversou com garimpeiros ilegais e apoiou publicamente a atividade.

O apoio do ministro, segundo os munduruku, aumentou a insegurança das lideranças que se opõem ao garimpo, com aumento das ameaças de morte. Uma liderança teve que fugir de sua própria aldeia e está escondida. Mesmo assim, a carta em que se posicionam contra a mineração foi aprovada por unanimidade por todos os líderes.

“As lideranças que falam contra o garimpo vivem ameaçadas de morte, algumas já tiveram que deixar suas aldeias e casas, a qualquer momento pode ocorrer uma emboscada e alguma liderança contra o garimpo ser assassinada”, relataram os munduruku às autoridades presentes na reunião.

“Existem pessoas fora da terra indígena investindo para aliciar lideranças e ameaçar as que resistem. A ida do ministro Ricardo Salles fez com que os garimpeiros se sentissem muito protegidos. Ficaram mais ousados. Agora temos garimpeiros e quadrilhas que agem ilegalmente nos territórios se sentindo protegidos pelo governo brasileiro”, disseram.

“A atividade de garimpo não cessou por causa do isolamento social. Quando a operação (de fiscalização) foi cancelada, foi dito pelo ministro que o povo Munduruku tinha pedido a suspensão da operação e isso não é verdade. Foram 7 mundurukus ligados ao garimpo para Brasília e eles não nos representam, não representam o povo Munduruku. A gente se sentiu ameaçado e por isso tivemos que agendar uma reunião emergencial para definir qual caminho iríamos tomar contra essa situação. Bebida alcóolica, tráfico de drogas, tudo isso entra na terra indígena por causa dos garimpos. O que encaminhamos sobre o garimpo, ouvimos todos os caciques e foi unânime, é que todos os garimpos devem ser fechados”, disse Ademir Kaba.

“Não tem proteção para nenhum de nós que estamos ameaçados. E quem tá entregando armas, drogas, para os índios? Isso é o branco que tá levando para dentro do território. Eu já vi helicóptero sobrevoando aldeia. Perguntei: é do Ibama? Não, é do Boi na Brasa. A gente tem que comer peixe contaminado, tem que beber água suja, porque quando mexem nas cabeceiras do rio, tudo fica contaminado. Tem muitos parentes doentes, não só com a covid, mas com as doenças do mercúrio. E a gente tem relatos das mães que as filhas, até crianças, estão se prostituindo, por causa dos garimpos ilegais. E não tem fiscalização nenhuma”, disse outra liderança presente.
 

Reunião

Durante a reunião foram apresentadas as conclusões de uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) sobre a contaminação por mercúrio entre os Munduruku concluída recentemente que mostrou níveis de mercúrio até oito vezes acima do normal na população, que já apresenta sintomas de intoxicação como problemas neurológicos, perda de reflexos e dificuldades de locomoção. A equipe que iria apresentar o resultado dos estudos para os caciques Munduruku foi atacada por garimpeiros na mesma pista de pouso em Jacareacanga.

A procuradora Ana Carolina Haliuc Bragança, da Força Tarefa Amazônia do MPF, explicou a obrigação constitucional da instituição de avançar em ações e operações que efetivamente reduzam o problema da garimpagem ilegal. “É um modelo predatório que não produz desenvolvimento, não produz riquezas. O que acontece hoje na Terra Indígena Munduruku é exemplar da crise existencial que vivemos”, disse.

O procurador Paulo de Tarso Moreira de Oliveira, que na semana passada abriu investigação sobre o uso de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para transportar indígenas que foram aliciados para defender o garimpo ilegal até Brasília, recebeu a carta dos Munduruku e a chamou de ato de coragem, diante das ameaças de morte que as lideranças enfrentam. “Sei que o momento é difícil, é tenso e que vocês estão aqui em um ato de coragem. É um problema que não vai se debelar com operações pontuais, é preciso avançar numa compreensão de como se organizam esses criminosos, para um combate eficaz”, disse.

A situação do garimpo ilegal no Tapajós também foi apresentada a representantes da Aeronáutica,do Sistema de Proteção da Amazônia, Fundação Nacional do Índio, Polícia Federal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente.

Fonte: Roma News

(Com informações Ascom MPF)

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