Boto tucuxi entra para lista internacional de espécies ameaçadas de extinção

Pesca predatória e indústrias poluentes são alguns dos principais inimigos dos botos de todas as espécies (Evandro Correa / Arquivo O Liberal)

O boto tucuxi (Sotalia fluviatilis), um golfinho de água doce da bacia amazônica, entrou para a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Agora, o mamífero é considerado uma espécie em risco de extinção.

A situação é grave, porém, ainda reversível. As soluções começam com medidas simples, entre cidadãos comuns, e escalam até decisões de governo para reduzir os riscos e amparar pesquisadores envolvidos na preservação do animal.

Alexandra Fernades Costa, bióloga e doutora em Ecologia Aquática e Pesca, do Instituto Bicho d’Água Conservação Socioambiental, observa que quando uma espécie é incluída numa lista em condição de ameaça, muitos estudos foram feitos para se chegar a essa conclusão.

Em 2008, os dados relacionados ao boto tucuxi eram insuficientes. Em 2012, era uma espécie considerada quase ameaçada, vulnerável. E neste ano, ameaçada. Quase 12 anos evoluindo a uma situação de risco cada vez mais.

“Ainda não é a mais grave, que é a criticamente ameaçada. Só que as avaliações não são nada positivas. O boto tucuxi ocorre, além do Brasil, na Colômbia, no Peru e no Equador e cada país tem suas próprias listas. Na Colômbia, já era considerada vulnerável desde 2006.O que tivemos em agosto deste ano foi uma avaliação mundial. Uma primeira solução seria um consórcio entre esses países para proteger a espécie”, comenta Alexandra.

No Brasil, destaca a bióloga, as espécies marinhas costumam figurar mais nas listas de espécies ameaçadas. Isso por conta da intensa degradação do meio ambiente e que acaba nas águas.

Há uma indústria forte que polui as águas em vários segmentos: hidrelétricas, monoculturas do agronegócio, mineração e tudo isso se acumula até chegar ao boto tucuxi e outros animais. O boto em questão, é um mamífero superior do ambiente aquático e do topo da cadeia alimentar.

Há ainda outras ameaças, mais específicas da pesca predatória, como redes de malha e pesca com explosivos. Em 2015, foi publicada uma moratória restringindo a pesca da piracatinga, um peixe que dificilmente é consumido no Brasil e tem como isca a carne de botos vermelhos (ou chamados de cor-de-rosa) e tucuxi.

Também, lembra Alexandra, há misticismos acerca da espécie: os olhos, partes genitais e óleos são usados para fazer amuletos e infusões mágicas. Isso é algo que ainda movimenta a pesca dos botos de todas as espécies. Logo, não consumir esse tipo de produto é uma forma de descapitalizar esse mercado.

“As estratégias de preservação existem, mas são mais voltadas à educação ambiental. Nem tanto fiscalização e sabemos o tamanho que tem a Amazônia. As pesquisas até chegam aos órgãos fiscalizadores e a entrada do boto tucuxi numa lista de situação de risco de extinção é uma prova de que as ações não estão dando conta. As medidas precisam ser tomadas logo, pois como se trata de um mamífero, a reprodução é lenta e os resultados da preservação vão levar anos até que sejam alterados”, ressalta Alexandra.

Por fim, a pesquisadora lembra que cada organismo tem um papel na natureza. Se um elemento é retirado, as instabilidades podem ser percebidas de várias formas. Toda espécie animal e vegetal é importante e deve ser preservada pelo bem do equilíbrio ecológico e funcionamento da natureza como um todo.

O peixe boi já esteve em condição de ameaçado. Evoluiu para situação vulnerável (um pouco menos grave). Então ainda há tempo de salvar o boto tucuxi, garante a Alexandra.

Fonte: O Liberal

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