CANAÃ DOS CARAJÁS (PA) – A mineradora Vale S.A. exporta boa parte sua produção de minério de ferro para a China e tem negócios com o país asiático desde 1973. A Vale fornece o minério que alimenta a indústria siderúrgica chinesa, responsável por mais de 1 bilhão de toneladas anuais de aço, mais de 50% da produção mundial, no entanto a multinacional costuma “esmagar” que ousa atravessar seu caminho.
Nesse contexto, a mineradora foi uma das grandes beneficiadas com a visita do presidente Luís Inácio Lula da Silva à China no mês de abril de 2023 com numerosa comitiva do governo e de empresários. A Vale firmou nada menos que 8 acordos com parceiros chineses.
Um deles se destaca: acordo com a CCCC Communications Construction Company para a construção da Ferrovia do Pará, que vai ligar a cidade de Barcarena a Marabá e Parauapebas, no ao sudeste do Pará. O problema é que a empresa Vale não respeita as pequenas comunidades, colonos nem os pequenos mineradores em Canaã dos Carajás, Parauapebas e Marabá.
Já a cidade de Barcarena, que tem o maior porto do Pará, o Vila do Conde, é sede da Hydro Alunorte, mineradora norueguesa que refina bauxita para produzir alumínio e da Imerys, empresa francesa que processa caulim. As duas mineradoras colecionam violações socioambientais nos últimos anos.
A região é estratégica para a Vale. Marabá é maior cidade do sudeste paraense e Canaã dos Carajás e Parauapebas ficam no centro do maior projeto de minério de ferro do mundo. A ferrovia da Vale que sai de Carajás e vai até o porto de São Luís (EFC), no Maranhão, por quase 1000 quilômetros, deixando no caminho um rastro de graves impactos para as comunidades afetadas, como o Observatório da Mineração mostrou em reportagem especial, passa por Marabá.
O acordo para esta nova ferrovia que vai atender a gigantes multinacionais como Vale, Hydro e Imerys, além de siderúrgicas e a exportação de commodities em geral, foi assinado pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), com o presidente Lula (PT), o vice-presidente de Assuntos Corporativos e Institucionais da Vale, Alexandre Silva D’Ambrosio e o presidente-adjunto da CCCC, Sun Liqiang.
“Esse empreendimento gera desenvolvimento, agrega a logística do nosso estado, desenvolve a nossa economia e gera mais empregos para nossa população. É o nosso compromisso, para deixar o Pará um estado mais competitivo, com uma economia pujante e levando qualidade de vida ao nosso povo”, publicou Helder Barbalho, no Twitter.
Na prática, os “tentáculos” da Vale estão entranhados no governo do Pará, União e Poder Judiciário. Durante décadas, os pequenos mineradores lutam para legalizar a extração de cobre, em Canaã dos Carajás, por exemplo, mas enfrentam o poderio econômico, político e influência na Justiça da Vale S.A. e os processos não chegam ao final da tramitação.
As chamadas ações de fiscalização são patrocinadas pela Vale. A empresa costuma arcar com as despesas e diárias de agentes da Polícia Federal (PF), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recurso Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Essa repressão insana prejudica as pequenas comunidades que sobrevivem da mineração artesanal na Região de Carajás.
No entanto, para Helder Barbalho, alçado a parceiro de Lula, que trouxe a COP 30 para Belém, em 2025, este é um “momento histórico” que vai integrar a nova ferrovia com a Norte-Sul, em Açailândia no Maranhão, melhorando a logística para a mineração e o agronegócio.
Todavia, não existe por parte de Helder nem de Lula preocupação alguma em legalizar a atividade extrativista dos pequenos mineradores que habitam a região muitos antes da chegada da Vale. A preocupação deles é com as empresas gigantes da mineração e agronegócio. Essa política predatória evidencia o caráter não social da mineração no Pará. (Portal Debate, com Observatório da Mineração)