O corpo de uma mulher executada na noite de quinta-feira (25) na Rua das Cacimbas, no Bairro Amapá, em Marabá, ainda não foi identificado pela perícia científica. Ela, que é apontada como travesti e indígena – duas minorias sociais historicamente discriminadas –, não dispunha de documentos quando foi encontrada sem a orelha esquerda em meio ao próprio sangue momentos após o crime. No Facebook, porém, a vítima usava o nome Andressa Pimentel e a foto de perfil que abre esta matéria.
Conhecida por populares como “Índia” (alcunha que consta em relatório da Polícia Militar) e, ainda, “Tamaquara”, a mulher está no Instituto Médico Legal (IML), na Folha 30, há mais de um dia. Até o fim da manhã deste sábado (27), nenhum familiar compareceu ao necrotério para reivindicar o corpo, que apresenta ferimentos provocados por arma de fogo no pescoço e no peito. Ela seria usuária de drogas.
Caso ninguém apareça nos próximos dias, a travesti e indígena será enterrada pelo Estado como indigente. Em seu perfil na rede social, consta que Andressa era natural de Belém do Pará e residia em Tailândia, distante 297 quilômetros de Marabá via PA-150 e PA-475. Há também a informação de que a mulher seria separada (status de relacionamento diferente do divórcio, quando há quebra do vínculo jurídico entre o casal).
Andressa também se identificava – no Facebook – com o gênero feminino e demonstrava interesse por homens, o que de certo modo confronta as hipóteses inicialmente levantadas. O perfil foi iniciado em setembro de 2013, data em que ela publicou a primeira foto. A mulher não completou ocupação profissional ou nível de escolaridade. Ela possuía apenas 257 amigos na plataforma social, a maioria de outras regiões do estado.
Em contato com repórter do Portal Debate Carajás, o delegado Vinícius Cardoso das Neves, diretor da 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, informou que o caso já está sendo investigado pela Divisão de Homicídios. Um inquérito foi aberto de modo a formar um quadro realista do crime, devendo apontar, inclusive, o motivo para a consumação.
Violência
Ao longo do último ano, 175 pessoas transexuais e travestis foram assassinadas no Brasil, o que equivale a uma morte a cada dois dias. Os dados foram coletados no relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
O mesmo relatório aponta que, no Pará, quatro pessoas da minoria social foram assassinadas em 2020. Foi o estado que mais matou trans e travestis na Região Norte no período.
Amazonas e Rondônia aparecem com três mortes. Tocantins, Acre e Roraima registraram uma cada. Já o Amapá foi o único estado brasileiro a não matar a parcela no ano passado, segundo o relatório.
São Paulo figura como líder na lista, com 29 mortes. Ceará (22), Bahia (19), Minas Gerais (17) e Rio de Janeiro (10) vêm em seguida. (Vinícius Soares/Debate Carajás)