Tolerância zero

Veteranos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Palotina, oeste do estado, impuseram aos calouros um trote violento, criminoso e inaceitável
Foto: Reprodução

Entrar para uma universidade é motivo de celebração, pelo esforço envolvido, pelas perspectivas de carreira e renda e pelo exemplo que representa num país em que apenas 17,4% da população com mais de 25 anos tem ensino superior completo. Definitivamente, contudo, nada há de celebração na atitude dos veteranos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Palotina, oeste do estado, que impuseram aos calouros um trote violento, criminoso e inaceitável.

De acordo com a polícia, veteranos do curso de medicina veterinária jogaram nos calouros um produto não identificado, armazenado em garrafas de desinfetante. Cerca de 20 estudantes sofreram queimaduras de primeiro e segundo graus e tiveram de ser hospitalizados. Foi o auge de uma sessão de humilhação e tortura que começou com ordens para que pedissem dinheiro nas ruas da cidade. Depois foram levados a um terreno baldio onde tiveram de se ajoelhar. Para culminar, o produto foi jogado sobre seus corpos.

Consumado o trote violento, as instituições agiram corretamente. Quatro veteranos suspeitos de ser os responsáveis pela agressão foram presos. Acabaram liberados com tornozeleira eletrônica após pagar fiança de R$ 10 mil. Responderão por lesão corporal e constrangimento aos calouros. O reitor da universidade, Ricardo Marcelo da Fonseca, afirmou que a instituição não tolera qualquer violência, informou que os feridos estão recebendo acompanhamento psicológico e disse que avaliará a expulsão dos agressores.

Prestar apoio às vítimas e punir os responsáveis são medidas óbvias, mas não encerram a questão. Infelizmente, ainda que muitas universidades repudiem essas atitudes inadmissíveis — a ponto de a lei proibir trotes violentos em estados como São Paulo —, a prática continua a fazer vítimas. Já houve até mortes, como a do calouro de medicina da USP Edison Tsung Chi Hsueh, de 22 anos, afogado numa piscina durante evento com consumo elevado de álcool promovido pelos veteranos em 1999. Estudantes, mesmo os que não sabiam nadar, como Edison, foram coagidos a entrar n’água ou empurrados para a piscina, que era profunda. Os que tentavam sair eram impedidos. Quatro estudantes foram acusados de homicídio qualificado. Todos acabaram absolvidos e se tornaram médicos. Um ano após a morte, a USP proibiu trotes e criou um Disque-Trote.

É inacreditável que trotes violentos sobrevivam nos tempos atuais. O que humilhação, constrangimento e violência têm a ver com o acesso à universidade? Nada mais anacrônico que cenas de calouros com os corpos pintados pedindo dinheiro em sinais de trânsito. Não tem graça, só humilhação. Se os próprios estudantes não demonstram consciência, é preciso que as universidades impeçam esse absurdo, decretando tolerância zero com trotes constrangedores ou violentos. Alunos que participam de atos como o da UFPR não podem permanecer na faculdade, ainda mais num curso de medicina. Devem ser submetidos ao rigor da lei. É a melhor forma de ensiná-los. (Editorial)

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