Supremacistas: Conheça os “apitos de cachorro” usados pela extrema direita

Bolsonaro toma um copo de leite em transmissão ao vivo no ano passado; objeto é muitas vezes associado a grupos supremacistas Foto: Reprodução

Após o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, ter feito um gesto associado, no Brasil, a um xingamento, mas também interpretado como um símbolo de supremacistas brancos durante uma sessão no Senado, iniciou-se um debate nas redes sociais sobre sinais usados pela extrema direita.
Sentado atrás do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), Martins foi filmado juntando os dedos polegar e indicador em um círculo e deixando os outros três dedos esticados. Nos EUA, com os dedos esticados para cima, o sinal quer dizer “OK”. Com os dedos para baixo, como fez Martins, o gesto passou a ser relacionado às letras W e P, de “White Power” (poder branco, numa tradução literal).

O uso de símbolos que, a princípio, parecem não ter nenhuma conotação negativa é parte da estratégia da extrema direita de saudar e se comunicar com seus apoiadores, reforçando ideias racistas, preconceituosas e xenófobas. Essa estratégia é chamada de “dog whistle”, ou “apito de cachorro” em português, numa referência ao instrumento que não é ouvido por humanos, mas pode ser captado por cães.

Não é a primeira vez que membros do governo de Jair Bolsonaro fazem uso desta tática, repetindo gestos da extrema direita. O próprio presidente chamou a atenção quando bebeu um copo de leite durante uma de suas lives, no ano passado, o que muitos interpretaram como uma referência a movimentos supremacistas.

O mesmo acontece em outros países, especialmente nos EUA. No ataque ao Congresso americano, em 6 de janeiro, por exemplo, muitos dos invasores tinham cartazes, camisas e bandeiras com esses símbolos.

Veja a seguir alguns desses símbolos 

Copo de leite

Embora o simples ato de beber leite não tenha, por si só, maldade, a bebida é tida como um símbolo supremacista branco por parte de grupos de extrema direita do Estados Unidos. O leite é usado por grupos radicais e racistas americanos,  entre eles o movimento conhecido como “alt-right”, como forma de exaltar a percepção preconceituosa de uma pretensa supremacia branca.

Além da cor do alimento, esses grupos justificam o simbolismo se baseando erroneamente em artigos acadêmicos que indicariam que pessoas brancas conseguiriam digerir a lactose com mais facilidade do que pessoas negras.

Depois de Bolsonaro beber o leite numa de suas lives, junto com o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e o secretário de Agricultura e Pesca, Jorge Seif Júnior, o gesto foi interpretado como um aceno a supremacistas. Seus apoiadores, como o blogueiro Allan dos Santos, repetiram o gesto. Bolsonaro negou e disse que utilizou a live para cumprir o “Desafio do Leite”, proposto pela Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite). Segundo Bolsonaro, aquela teria sido uma demonstração de apreço à importância do produto para o agro nacional.

Estética vaporwave

Montagem mostra uma frase sobre armas e é reproduzida no YouTube ao som de falas de Bolsonaro Foto: Reprodução

Com referências dos anos 80 e 90, a estética vaporwave mistura colagens futuristas e psicodélicas, frases enigmáticas, imagens da cultura pop e elementos da música eletrônica. Esse movimento de contracultura incubado na internet foi usado por líderes e políticos ligados à extrema direita pelo mundo.

Na eleição americana de 2016, apoiadores do então candidato à Presidência Donald Trump compartilhavam montagens do ex-presidente seguindo essa mesma estética. Na Europa, ela ficou marcada por conteúdos com tendência xenofóbica e ganhou o apelido de fashwave, em referência à palavra fascist (fascista).

No Brasil, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e a deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) foram alguns dos que adotaram essa estética em suas redes socias.

Sapo Pepe

Adesivo do sapo ‘Pepe’, posto em cima de uma placa feita em homenagem à vereadora Marielle Franco Foto: Reprodução

Pepe, o sapo, é um meme usado frequentemente na internet e em diversos contextos. No entanto, conforme aponta a Liga Antidifamação (ADL), principal entidade de combate ao antissemitismo dos Estados Unidos, a imagem do anfíbio verde passou a ser usada por supremacistas brancos, inclusive do movimento “alt-right”, em contextos racistas, antissemitas e para disseminar discursos de ódio.

Máscaras do Pepe também foram usadas na invasão do Capitólio por apoiadores de Trump.

Trollface

Assim como Pepe, o meme “trollface” também foi apropriado por extremistas da direita. Usado inicialmente para sinalizar quando alguém foi zoado na internet, o desenho do rosto rindo também passou a ser usado com intenção de disseminar preconceitos. No entanto, por ser um meme bastante popular, a ADL alerta que é preciso analisar o contexto para saber se foi usado como um “apito de cachorro”.

Kekistão

Homem segura bandeira do Kekistão, reino fictício associado à extrema esquerda, durante manifestação em Washington Foto: JIM URQUHART

Ainda no universo da internet, outro símbolo da extrema direita é a bandeira do reino fictício do “Kekistão”. Ela é derivada de uma bandeira nazista, mudando apenas sua cor e substituindo a suástica pela palavra “kek”.

Esse “reino” foi criado em fóruns virtuais e tem Pepe, o sapo, como seu principal líder. De acordo com o Southern Poverty Law Center, que monitora grupos de ódio, ele surgiu com uma forma de zoar “progressistas e conservadores hipócritas”. A bandeira do Kekistão também estava presente na invasão ao Capitólio.

Símbolo do diferente

O sinal matemático ≠ (diferente) também foi apropriado por supremacistas brancos. De acordo com a ADL, esse símbolo é usado pelos extremistas como uma forma de afirmar que diferentes raças não são iguais entre si e de sugerir que brancos seriam superiores aos demais.

Cruzes 

Diversos tipos de cruz foram adaptados para dentro da simbologia da extrema direita. Segundo a Liga Antidifamação, uma das mais frequentemente usadas é a cruz celta, que combina uma cruz dentro de um anel. A imagem é muitas vezes vista entre grupos neonazistas, assim como outras imagens pagãs europeias. Além delas, há também releituras modernas da cruz de ferro, usada durante o regime nazista na Alemanha.

Anti-Antifa

O símbolo antifascista, duas bandeiras voltadas para a esquerda dentro de um círculo, repercutiu mundialmente no ano passado após a onda de protestos motivada pelo assassinato de George Floyd, americano negro morto por policiais nos Estados Unidos. A Antifa, abreviação de antifascista, é frequentemente alvo grupos da extrema direita. Em resposta ao símbolo deles, extremistas costumam usar a imagem com uma faixa cortando-a.

A cara do fascismo digital no governo Bolsonaro - Link - Estadão
Filipe Martins
Fonte: O Globo

 

 

 

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