Seca no Rio Araguaia reduz a quantidade de ninhos de tartaruga da Amazônia

Locais de desova são monitorados pelo Projeto Quelônios. Em trecho onde tinham sido localizados dois mil ninhos no ano passado, neste ano foram encontrados apenas 500.
Crédito: Reprodução

RIO ARAGUAIA, ESTADO DO TOCANTINS – A quantidade de ninhos de tartaruga da Amazônia demarcados pelo Projeto Quelônios nas praias do Araguaia caiu drasticamente neste ano. Em um trecho os voluntários conseguiram encontrar cerca de 500 ninhos, mas esse número é bem menor que o registrado no ano passado, quando foram mais de duas mil demarcações.

Para os especialistas, esse fenômeno estaria diretamente ligado às mudanças no habitat causadas pela seca no Rio Araguaia, considerada a pior dos últimos 30 anos, prejudicando a natureza.

No Parque Estadual do Cantão as equipes monitoram o período de reprodução da espécie e fazem a demarcação dos ninhos com estacas. O rastro na areia indica que as fêmeas passaram recentemente pela praia, mas isso está ficando cada vez mais raro.

“Está sendo uma grande decepção porque eu espero chegar aqui e isso aqui tá coberto de rastros, mas não é isso que está acontecendo esse ano”, lamentou o coordenador do projeto Quelônios, Wilson Junior.

Essa espécie só sai da água para desova e em cada ninho nascem cerca de cem filhotes. Todos os dias as equipes do Projeto Quelônios fazem o monitoramento rigoroso nas praias.

“Os rios ficaram muito secos esse ano, então elas também têm se dispersado quanto à localização. O que se pode falar é que os fatores climáticos têm influenciado nisso aí”, comentou o supervisor do Parque Estadual do Cantão, Adailton Glória. Os poucos ninhos demarcados estão mais rasos e mais distantes da água.

“Quando você tem uma diminuição da precipitação – da quantidade de chuvas – você teve como resultado menos tartarugas desovando nas praias do Araguaia. Quanto mais água tiver, fica mais fácil pra ela se deslocar, uma diminuição do nível d´água começa a ter muito gasto energético para deslocamento”, explicou a pesquisadora Universidade Federal do Tocantins, Adriana Malvario.

Segundo os pesquisadores, esse fenômeno pode impactar diretamente a população de tartarugas nas próximas décadas.

“Para você ter uma nova fêmea desovando são pelo menos 15 anos. Você perder 50% dos filhotes que nascem naquela área, o impacto é muito menor do que perder 50% das fêmeas porque no ano seguinte você vai continuar tendo as crias se você não impactar as fêmeas. Agora se você impactar as fêmeas o número de anos para você ter aquele número de fêmeas desovando naquela área vai demorar muito mais. Então eu diria que o ouro de uma população são as fêmeas.”

O Araguaia nasce em Goiás e percorre 2,1 mil, até se encontrar com o rio Tocantins na divisa com o Pará. Em alguns pontos, as águas chegam a apenas 20 centímetros.

Em Xambioá, o nível do rio baixou cerca de 2 metros e grandes bancos de areia estão se formando no meio do afluente. “Quem é que disse que um dia eu ia ver meu Araguaia assim? Seco desse jeito?”, lamentou Cleonice Oliveira Barros. (Portal Debate Carajás, com G1/Tocantins)

Rede Globo repercute seca do Araguaia e a grave situação da maior ilha fluvial do mundo | Norte do Tocantins
Bancos de areia emergem no meio da pouca água do Araguaia – Foto: reprodução jornal hoje

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