Protesto: Ministério da Saúde nomeia cacique Welton Surui para o Dsei Guamá-Tocantins

Demora na nomeação mobilizou lideranças indígenas a protestarem na frente do Ministério da Saúde, em Brasília (DF)
Foto: Thiago Vilarins

BRASÍLIA (DF) – Na tarde desta quinta-feira (27), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, nomeou o cacique Welton Jhon Oliveira Surui para o cargo de coordenador do Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena Guamá-Tocantins (Dsei-GUATOC). Vinculado à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai/MS), o Dsei-GUATOC, com sede em Belém.

O Dsei-GUATOC responde por todas as etnias paraenses, totalizando 24 mil indígenas, distribuídos pelos polos de Marabá, Tucuruí, Capitão Poço, Paragominas, Tomé-Açu, Santa Luzia, Santarém e Oriximiná. O anúncio do novo coordenador foi feito depois da manifestação de cerca de 40 líderes indígenas na porta do Ministério da Saúde

O cargo estava vago desde o inicio do ano após a exoneração de Stanney Everton Nunes, que foi nomeado pelo governo Bolsonaro. O nome de Welton Surui despontou desde o início como favorito para a coordenação. Além de ser do quadro de servidores da Sesai, o cacique foi bem avaliado para o cargo por cerca de 85% da população indígena alcançada pelo Dsei-GUATOC.

Na última segunda-feira (24), em reunião na Casa Civil da Presidência da República, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, chegou a confirmar com os líderes indígenas que o nome de Welton Surui já estava aprovado e só faltava a assinatura da ministra da Saúde para a nomeação ser publicada no Diário Oficial da União.

Como os manifestantes não obtiveram nenhuma resposta em 48 horas, os indígenas temeram a possibilidade de alguma intervenção política e decidiram fazer a pressão pela nomeação de Welton Surui na frente da Pasta da Saúde em Brasília.

A assessora especial do gabinete da ministra da Saúde, Marylene Souza (ao centro) reunida com os caciques que reivindicavam a nomeação de Welton Surui (de braços cruzados) para o Dsei-GUATOC – Fotos: Thiago Vilarins

Manifestação

A manifestação em frente à entrada do Ministério da Saúde ocorreu pacificamente e era possível ouvir os cantos indígenas de todos os andares do prédio. Não demorou muito para eles serem recebidos pela assessora especial do gabinete da ministra da Saúde, Marylene Rocha de Souza, que prometeu aos caciques levar a reivindicação à ministra que, segundo ela, estava no prédio em reunião com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Em menos de uma hora, a assessora retornou com uma cópia da portaria assinada pela ministra com a nomeação de Welton Surui para o comando do Dsei-GUATOC.

O momento foi de grande celebração dos indígenas tanto pela nomeação tão aguardada quanto pela sensação de que a mobilização fez efeito.  “Não tivemos nenhuma satisfação sobre a demora. O que ocorreu aqui foi só uma cobrança das lideranças e dentro de minutos a portaria foi liberada. E isso foi fundamental. O ministério viu a presença maciça dos caciques. A gente sabe que vive em um País democrático aonde existe a politicagem por trás disso. Então, muitas pessoas achavam que a gente não tinha essa força da base. E a vinda dos caciques aqui foi suficiente para mostrar que a gente está vindo com a maioria, com o apoio da base, e com o peso forte da autonomia dos caciques”, explicou Surui.

A comemoração se manteve na caminhada até onde eles estão acampados, no inicio da Esplanada dos Ministérios, devido à participação na 19ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que reúne nesta semana em Brasília mais de seis mil indígenas pela reivindicação da retirada de uma lista de Projetos de Lei (PLs) que afetam a qualidade de suas vidas nas diversas localidades Brasil afora.

Opinião em Pauta
Lideranças indígenas que defendem a nomeação do cacique Welton Surui para Dsei Guamá-Tocantins no acampamento Terra Livre, instalado na Esplanada dos Ministérios – Foto: Thiago Vilarins

O novo coordenador do Dsei-GUATOC falou sobre a conquista. “Esse momento é, primeiramente, de agradecer a Deus, por essa oportunidade devido a trajetória de luta. Foram muitos dias de luta para ver se chegava esse momento tão esperado pela maioria das lideranças de base, que vinham sonhando, apoiando e buscando essa vitória. Não foi fácil. É um privilégio estar, agora, de frente de um setor tão importante para a vida do nosso povo. Porque quando se fala de saúde, estamos falando de vida. Então, é uma responsabilidade maior e as palavras que eu tenho, agora, são de gratidão a Deus e a cada um que tem apoiado. E também para pedir sabedoria de Deus e apoio dos caciques e lideranças para que a gente possa fazer uma gestão de acordo com os anseios da base. É um compromisso que fiz desde quando lancei meu nome de fazer diferente, mesmo sabendo que não será fácil, mas nada é impossível quando a gente tem boa vontade”, exaltou o cacique.

No final, Welton Surui avaliou quais serão os seus maiores desafios neste inicio de gestão e as prioridades que serão traçadas. “Devido a demora dessa nomeação, a gente ficou com as farmácias desabastecidas, muitos contratos venceram, porque dependiam, principalmente, do aval do coordenador para poder renovar ou fazer outras licitações, a questão de logística para dá acesso ao nosso povo um atendimento digno, a questão de equipe multidiciplinar também que estava com muitos déficit. Agora é montar uma agenda e formar uma equipe para começar a pontuar aquilo que é mais prioridade para que a gente possa começar a atuar como coordenador no distrito Guamá-Tocantins”, concluiu o guerreiro Surui. (Portal Debate, com Opinião Em Pauta)

 

(Fotos: Thiago Vilarins)

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