Preocupada com intolerância, cidade alemã declara ‘emergência nazista’

Um vereador da cidade de Dresden, no leste da Alemanha, decidiu tomar uma medida polêmica contra o extremismo e a ultradireita. Max Aschenbach, do Die Party (O Partido), apresentou uma moção na Câmara Municipal por meio da qual ele declara “emergência nazista” na capital da Saxônia.

A resolução, aprovada pelos legisladores por 39 votos a favor e 29 contra, reconhece que “atitudes e ações extremistas da direita (…) estão ocorrendo com crescente frequência” e pede à cidade que ajude as vítimas da violência racial, proteja as minorias e fortaleça a democracia.

Dresden é considerada bastião da ultradireita e berço do Pegida, um movimento radical anti-islã que prega o “despertar” à ameaça representada por extremistas islâmicos e insta as autoridades a combaterem a imigração. Os adversários políticos de Aschenbach o acusaram de ir longe demais.

Em entrevista à emissora britânica BBC, Aschenbach explicou que “Nazinostand’ (nome da resolução) significa que nós temos um grave problema”. “A sociedade democrática aberta está sob ameaça”, alertou. “Nós temos um problema em Dresden e temos de fazer algo sobre isso. (…) Os políticos devem, finalmente, começar a condenar isso ao ostracismo e dizer: ‘Não, isso é inaceitável’”, acrescentou, em declaração à tevê pública local MDR.

O vereador criticou os colegas de outros partidos por não tomarem iniciativas e não se posicionarem “claramente” contra a extrema-direita. “A moção foi uma tentativa de mudar isso. Também quis saber com que tipo de pessoas estou me reunindo na Câmara Municipal de Dresden”, disse Aschenbach.

Consequências

A resolução também insta a sociedade a manter foco “nas causas e nas consequências do antissemitismo, do racismo e da islamofobia para restabelecer a confiança das instituições democráticas e a valorização da diversidade e da solidariedade respeitosa”. Aschenbach entende que a adoção da resolução atestou o compromisso dos vereadores em forjar “uma sociedade democrática livre e liberal, que protege as minorias e se opõe de modo resoluto aos nazistas”.

O partido governista União Democrata Cristã (CDU) não poupou críticas à resolução e a classificou de uma “provocação intencional”. Jan Donhauser, líder da bancada de vereadores do partido, afirmou à BBC que “o estado de emergência indica o colapso ou ameaça grave à ordem pública”.

“Não é algo feito de maneira rudimentar. Além disso, o foco no ‘extremismo de direita’ não faz jus ao que precisamos. Somos os guardiões da ordem básica liberal democrática. Nenhuma violência, não importa de qual lado os extremistas estejam, é compatível com essa ordem.”

Donhauser assegurou que “a vasta maioria dos cidadãos de Dresden não é formada nem por extremistas de direita, nem por antidemocratas”. Ele reconhece o fato de a cidade não ser obrigada a tomar qualquer medida por conta da resolução, mas acenou com a esperança de iniciativas existentes receberem prioridade mais alta, com as futuras decisões seguindo essa tendência.

Julgamento

Em 30 de setembro, um grupo neonazista suspeito de terrorismo e de encorajar uma insurreição nacional começou a ser julgado em Dresden, em meio ao temor de radicalização da extrema-direita.

Oito integrantes, com entre 21 e 32 anos, da chamada Revolução Chemnitz, foram acusados formalmente de “formar uma organização terrorista de extrema-direita” e de “se reunir para alcançar objetivos políticos, no intuito de abalar as fundações do Estado com graves atos violentos”. O julgamento durará até abril de 2020 e contará com os depoimentos de 75 testemunhas.

Correio Braziliense

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