Pecuaristas dizem que “mal da vaca louca” é manobra para baixar preços do gado no Brasil

De acordo com a nota oficial do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), nesta quinta-feira (23), a exportação de carne bovina foi suspensa, temporariamente, após a confirmação do caso, mas nenhuma prova foi apresentada pelas autoridades sanitárias.
Crédito: Agência Brasil

PECUÁRIA DE CORTE BRASILEIRA – Nos últimos dias, o noticiário brasileiro tem produzido uma avalanche de notícias pautadas em um caso atípico da Encefalopatia Espongiforme Bovina, vulgarmente conhecida como “mal da vaca louca”. De acordo com fiscal da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), o caso ocorreu na zona rural de Marabá, próximo à região da “Vila Quatro Bocas”, pertencente a Itupiranga, no sudeste do Pará.

Segundo informações divulgadas pela Adepará, na última quarta-feira (22), foi confirmado o atípico caso da doença. Na ocasião, o Portal Debate publicou a matéria “Caso da doença da ‘vaca louca’ é confirmado no sudeste do Pará” que repercutiu bastante na Região do Carajás.

De acordo com a nota oficial do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), nesta quinta-feira (23), a exportação de carne bovina para a China foi suspensa, temporariamente, após a confirmação do caso que prejudicou os pecuaristas.

A notícia caiu como uma bomba nas fazendas que estão com rebanhos no ponto de abate. A dura realidade é que o produtor do gado gordo é quem amarga as consequências ao ver o preço da arroba do gado despencar e mais uma vez, assim como em 2021, não poder fazer nada, a não ser entregar o gado a preço de banana para os frigoríficos.

A justificativa para a baixa nos preços é sempre a mesma: o embargo da China. Atualmente ela é considerada o maior importador de carne do Brasil, mas acompanhando mais afundo as análise do mercado do boi gordo, a partir de perspectivas de profissionais independentes, é possível chegar a novas conclusões. O mercado Agro é, mais uma vez, alvo de manipulação.

Dados de levantamentos e pesquisas investigativas da Rural Bisness evidenciam que 80% da carne produzida pelo Brasil é consumida pelo mercado interno, ou seja, os brasileiros são os maiores consumidores.

Veja abaixo o crescimento do faturamento dos frigoríficos brasileiros no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022.  Confira:

  • Em 2018 o faturamento foi de 6,5 bilhão de dólares (23 bilhões de reais)
  • Em 2019 o7,63 bilhões de dólares (30,10 bilhões de reais)
  • Em 2020 8,48 bilhão de dólares (43,72 bilhão de reais)
  • Em 2021 9,20 bilhão de dólares (49, 63 bilhões de reais)
  • Em 2022 12,95 (Bilhão de dólares (66,88 bilhões de reais

Conforme dos dados acima, nos anos de 2021 e 2022, os frigoríficos alcançaram recordes em seus faturamentos com a exportação de carne bovina para outros países. O resultado final foi de um aumento de 17 bilhões de reais a mais nas  exportações.

Esses dados são importantes porque denotam uma contradição. Enquanto os produtores de gado têm prejuízos, os grandes frigoríficos comemoram aumento no faturamento. E aí é necessário apresentar outra questão fundamental para se compreender o cenário da exportação brasileira.

Analise abaixo, como foi o consumo da China e o consumo interno do Brasil no período de 2018 a 2022.

  • Em 2018, a China comprou 0,78 milhão de toneladas (7% da produção de carne bovina brasileira), a soma da compra de outros países chegou a 0,92 milhão de toneladas (10% da produção) e o Brasil consumiu 8 milhões de toneladas (Ou seja, 83% da produção brasileira foi consumida pelo mercado do Brasil).

  • Em 2019, o Brasil consumiu 7,78 milhões de toneladas da produção bovina (o que representou 81% da produção). A China comprou 0,84 milhão de toneladas (9% da produção total dos frigoríficos) e a soma da compra de outros países chegou a 1,2 milhão de toneladas (10% da produção).

  • Em 2020, o Brasil consumiu 7,49 milhões de toneladas (79% da produção). A China comprou 1,18 milhão de toneladas (12% da produção). A compra de outros países foi de 0,83 milhão de toneladas (9% da produção brasileira).

  • Em 2021, o Brasil consumiu 7,49 milhões de toneladas (80% da produção), outros países compraram 0,90 milhão de toneladas (10% da produção) e a China comprou 0,94 milhão de toneladas (10% da produção brasileira).

  • Em 2022, o Brasil consumiu 7,50 milhões de toneladas da carne bovina produzida no país (77% da produção dos frigoríficos), outros países compraram 0,93 milhão de toneladas (9% da produção) e China comprou 1,3 milhão de toneladas (14% da produção).

De acordo com os levantamentos apresentados, o Brasil consome cerca de 80% da produção de carne bovina brasileira e a China consome apenas 10% de toda a produção.

O que se sabe?

As notícias têm levado à exaustão o incidente, mas não deu tanta evidência ao real impacto desta ocorrência na saúde das pessoas. Conforme pesquisas científicas divulgadas pela Rural Business, o animal que desenvolve a doença não transmite aos demais animais do rebanho nem para o ser humano. Na concepção de Júlio Brissc, analista de mercado do boi gordo, o alarme não passa de mais um “teatro mercadológico”. A doença trata-se de uma ocorrência atípica que afeta somente o sistema neurológico de animais velhos.

O cenário tem afetado negativamente produtores em todo o País. O preço da arroba sempre fica ladeira abaixo diante destas circunstâncias. E como se não bastassem os holofotes distorcidos, a pecuária de corte do Brasil ainda tem que lidar com a escassez de informação tanto sobre os procedimentos de análises quanto sobre os verdadeiros motivos “arranjados” para baixar o preço do gado no País.

O veterinário e fiscal estadual agropecuário, Joelson de Souza Rezende, responsável pela unidade da Adepará no Distrito Cruzeiro do Sul, localizado na zona rural de Itupiranga, no sudeste do Pará, destaca que o caso não deve ser preocupação para a população. “Essa doença chamada EEB (encefalopatia espongiforme bovina), nesse caso, não fornece nenhum tipo de risco para seres humanos nem para outros animais. Qualquer animal muito velho pode desenvolver e vai morrer. Por isso, chama-se de forma atípica. Não existe vacina nem tratamento”, garante o servidor público.

Consultoria técnica no abate é decisiva no lucro do pecuarista
Foto: Reprodução

Vamos pensar um pouco?

De acordo com pesquisas científicas, a EEB pode ser classificada como “atípica” ou “clássica”. É importante que tanto o consumidor quanto o produtor saibam claramente a diferença entre um caso atípico da doença e um caso clássico.

O atípico não significa que se trata do “mal vaca louca” e sim de uma variação da doença. Ela se desenvolve no cérebro de animais mais velhos, que assim como seres humanos podem adoecer o sistema neurológico devido à idade.

O caso clássico, que nunca teve registro no Brasil, afeta animais de qualquer idade. Nesta situação, eles podem transmitir para rebanhos e também para os seres humanos.

Vale destacar que o governo brasileiro não constatou registros de caso clássico do “mal da vaca louca” no Brasil. Até o momento, foram registrados casos atípicos, que nada mais são do que animais mais velhos, que assim como o ser humano, desenvolvem doenças neurológicas.

Um fator extremamente relevante e pouco noticiado é a idade dos animais que são abatidos e vendidos para a China. Essa brecha é crucial para se pensar o mercado do boi gordo de forma mais crítica. Levando em conta que a China compra animais com idades de até 30 meses ( 2 anos e 6 meses), qual o motivo do embargo do mercado chinês, já que a doença só se desenvolve exclusivamente em animais velhos?

É importante apresentar na linha do tempo, o volume de carne brasileira importada pela China e também o faturamento dos frigoríficos brasileiros, incluindo os períodos em que houve embargo à exportação para aquele país. Vale destacar que não há registros de que a carne embargada tenha retornado para o Brasil. Os indícios são de  que toda a produção embargada foi vendida para países asiáticos.

Diante disso, é necessário destacar, que embora o produtor tenha sofrido com o despencar dos preços na venda do gado gordo, as prateleiras dos supermercados não baixaram seus produtos, ao contrário disso, as carnes eram comercializadas com preços altíssimos.

Questões que carecem de respostas:

Até o momento o Governo do Pará e o Governo Federal não divulgaram os documentos que evidenciam a comprovação do resultado da análise nem o local onde realmente aconteceu o incidente. Tanto o site oficial da Adepará quanto o site do MAPA não apresentam a documentação sobre o caso. Qual seria a razão?

Outra questão interessante, e que deve ser analisada, é o real poder que a China exerce sobre o mercado agropecuário. Partindo do pressuposto de que somente 10% da carne bovina produzida no Brasil é vendida para a China, qual seria a razão para baixar o preço do gado gordo? Com a palavra, os governos de Helder Barbalho (MDB) e Lula (PT) (Eva Fernandes/ Portal Debate)

Vaca louca': exportações de carne à China são suspensas nesta quinta
Foto: Reprodução

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