Mulheres se unem para cortar e doar cabelo a vítimas de escalpelamento no Pará

Os cabelos doados são usados para a produção de perucas, fundamental para identidade e autoestima das pessoas que sofreram com o grave acidente.

Um projeto tem doado cabelos e feito palestras sobre prevenção de acidentes com escalpelamento no Pará. As mulheres correspondem a 98% das vítimas, apontou um estudo da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa).

Estefany Cristini foi uma das mulheres que compareceram à ação do projeto “Pelos Rios do Pará”, que ocorre esta terça-feira (2), no município de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó.

“Cabelo para mim é símbolo de força, mas eu me sinto muito mais forte quando eu dou o meu cabelo para pessoas vítimas de escalpelamento”, diz Estefany.

Realizado pelo Ministério Público do Estado do Pará, em parceria com a Marinha do Brasil, o projeto é realizado a bordo de um navio.

O que é escalpelamento?

Os casos costumam acontecer em embarcações de pequeno porte, principal meio de transporte nos rios amazônicos: os cabelos compridos, em sua maioria de mulheres e meninas, se enrolam nos eixos de motores sem proteção.

Em muitos casos, as vítimas têm orelhas, sobrancelhas, pálpebras e parte do rosto e pescoço arrancados, o que causa grave deformação e pode levar a morte.

Para Olinda Guedes, presidente da ONG Amigos Voluntários do Pará, o papel é levar prevenção e conscientização ao acidente com escalpelamento.

“A ONG também precisa de ajuda, como conseguir arrecadação de cabelos para fazermos perucas para as vítimas. Seja uma doadora!”, afirma Olinda.

Os atendimentos começaram segunda-feira (1 º) e oferecem emissão de documentos, atendimento médico e odontológico, oficinas de capacitação, palestra, além das palestras sobre prevenção de acidentes com escalpelamento.

Depois do acidente no eixo de um motor, a vida de Anne Almeida, de 35 anos, mudou drasticamente. Moradora de Abaetetuba, na região nordeste do Pará, ela foi vítima quando tinha 15 anos.

“Essa coragem em dar meu depoimento para as pessoas surgiu quando eu saí do hospital e tive alguns preconceitos. Por isso, eu busco levar a minha dor e a minha história para que outras pessoas não venham passar o que eu passei”, revela.

Os cabelos doados são usados para a produção de perucas, fundamental para identidade e autoestima das pessoas que sofreram com o grave acidente.

Após Ponta de Pedras, o projeto estará nos municípios de São Sebastião da Boa Vista (dias 4 e 5) e Abaetetuba (dias 8 e 9).

Mulheres marajoras são as principais vítimas

O estudo da Fadespa traçou o perfil das vítimas de escalpelamento no Pará. A pesquisa revelou que, no Pará, a maioria dos casos nos últimos 50 anos, vem do Marajó.

As mulheres correspondem a 98% das vítimas, sendo que 67% delas são crianças e adolescentes entre 2 e 18 anos de idade.

De 1964 até 2022, foram registrados 207 casos de escalpelamento em 41 municípios paraenses.

O perfil das vítimas de escalpelamento foi traçado pela Fundação a partir de dados fornecidos pela Capitania dos Portos e a Casa de Apoio Acolher.

Por que eles ocorrem na Amazônia?

O estudos mostra que, além do Pará, apenas outros dois estados registram escalpelamento no país: Amapá e Amazonas. Peculiaridades da região contribuem para o surgimento de casos.

A Região Amazônica tem a extensão de 8 milhões de km², com a maior bacia hidrográfica do planeta.

Nesse contexto, percorrer áreas de grandes ou de pequenas extensões de rios, igarapés e furos, requer o uso de embarcações. (Com g1 Pará)

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