Mulher questiona morte de marido na Rua das Cacimbas

Mayano de Oliveira Santos, o Baianinho, em vida | Foto: Arquivo Pessoal

A esposa de Mayano de Oliveira Santos, também conhecido por “Baianinho”, morto durante intervenção policial na noite do último sábado (13) no Bairro Amapá, em Marabá, procurou a Reportagem do Portal Debate Carajás para contestar a versão de policiais militares narrada em registro de ocorrência na 21ª Secional Urbana de Polícia Civil. Ela pediu reserva do nome e não será, deste modo, identificada nesta matéria.

Na versão dos militares envolvidos na ocorrência, Baianinho estava portando uma arma de fogo em um bar e, ao avistar a guarnição, tentou fugir por um beco, sacando a arma e atirando na direção dos policiais. Diante da injusta agressão aos agentes de segurança, houve revide e o suspeito foi baleado. Ainda segundo os policiais, ele chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Municipal de Marabá (HMM), porém não resistiu aos ferimentos e morreu.

Nesta foto, Mayano Baianinho no mármore do IML

Versão diferente

Já na versão da esposa, Mayano estava acompanhado dela e três filhos no bar em um momento de diversão. A companheira estava sentada em uma mesa com várias amigas, e “Baianinho” conversava com alguns colegas em outra mesa. De acordo com a esposa, em dado momento, o marido foi até ela, conversou um pouco retornou para onde estava.

Relata a esposa que, neste momento, de seis a oito viaturas da PM chegaram ao local. Mayano continuou andando rumo à mesa em que estava. No entanto, na versão dela, os policiais atiraram primeiro, sem que o homem reagisse.

A reclamante alega que, ao tentar intervir para não deixar o esposo ser morto, foi agredida com socos no tórax. Ela ainda teria caído e ferido os joelhos. A mulher não informou ter procedido com exame de corpo de delito no IML para comprovar as declarações contra os agentes de segurança pública.

Nesta esteira, a esposa conta que, mesmo desesperada, conseguiu subir em um mototáxi. Ao chegar ao HMM, já encontrou o marido sem vida dentro de um saco plástico. “A gente só quer a verdade. Em nenhum momento, eu o vi com arma de fogo. Foi covardia”. A mulher também sustenta que Mayano não possuía e nunca usou uma arma de fogo na vida.

“Não conseguimos a cópia do laudo do IML, mas ele apresentava duas marcas de tiro em uma das mãos. A cabeça tinha perfuração de bala. Também vimos marcas de tiros de arma de fogo nos peitos e nas costas”, detalha a mulher. Ela também argumenta ainda que o rosto do homem estava ferido.

Calibre 38 que teria sido usado por Baianinho na troca de tiros com a polícia

“Se meu marido foi alvejado a tiros, por que o corpo dele apresentava diversas lesões compatíveis com tortura e espancamento? A abordagem da PM foi desastrosa e trágica para nós, porque ele era um homem trabalhador e pai de cinco filhos. O mais novo tem só seis meses de idade, e o mais velho está com sete anos”. Os policiais apresentaram na delegacia de Polícia Civil um revólver calibre 38, com quatro munições intactas e uma deflagrada.

A mulher viveu com Mayano por 11 anos. Juntos, tiveram cinco filhos. Segundo ela, o homem apresentava apenas uma passagem pela polícia, quando ainda adolescente, no estado do Maranhão. Ela confirmou que o marido era usuário de droga, porém era trabalhador. “Nem todo usuário de maconha é bandido. Meu marido trabalhava, comprava [a droga] para consumo, mas não fazia mal a ninguém. Sempre cuidou muito bem de mim e dos filhos. E agora, como vamos viver sem ele?”, questiona.

A esposa de Mayano registrou boletim de ocorrência com todas as acusações relatadas nesta matéria na Polícia Civil de Marabá, logo após o ocorrido, e deve procurar nesta quinta-feira (18) o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA). “A família só quer saber a verdade e ver os culpados punidos. Só isso”, finaliza, visivelmente aflita.

Baianinho trabalhava como pedreiro em Marabá

O outro lado

Repórter do Portal Debate Carajás entrou em contato com o tenente-coronel José Ricardo Passos Chaves, comandante do 34º Batalhão de Polícia Militar, unidade responsável pela segurança na área do Núcleo Cidade Nova, e cobrou pronunciamento institucional a respeito das acusações. O militar atendeu à ligação telefônica do veículo, porém não retornou sobre o pleito. No momento em que a instituição militar decidir se pronunciar, as informações serão acrescentadas à matéria. (Portal Debate Carajás)

Esta matéria foi atualizada às 22h14 de 17 de fevereiro de 2021

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