Na noite de sexta, 20, o Auditório da Câmara Municipal de Marabá (CMM) recebeu o público envolvido no seminário alusivo aos 30 anos da Pedagogia da Alternância no Sudeste do Pará, que objetiva reconhecer os bons resultados da Escola Familiar Agrícola da Região de Marabá (EFA), além de debater experiências educativas, memórias, processos de organização e conquistas de movimentos sociais de reforma agrária na Educação do Campo. O evento recebeu várias autoridades de instituições interligadas ao tema, como Francisco Costa, Reitor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa); Maria Suely, Diretora do Instituto Federal de Ciência e tecnologia do Pará (IFPA Campus Marabá Rural); de Arley Novais, Diretora de Ensino do Campo, além da presença do Vice-Prefeito Luciano Dias.
“Esse seminário só tem a fortalecer o sistema de Educação do Campo, que é a Pedagogia da Alternância. Um mecanismo importante para que os alunos da Zona Rural se fixem em seus ambientes e levem os conhecimentos teóricos para pôr em prática, com apoio da Emater e Seagri. A EFA de Marabá faz um trabalho interessante em relação a isso, e é uma das poucas escolas em regime de tempo integral que temos em nosso município, lembrando que esse também é aplicado no nível superior, por meio do IFPA de Marabá”, atribui o Vice-Prefeito.
Antes do início das falas na mesa institucional, estudantes da EFA apresentaram ao público uma dramatização com cartazes e falas relacionadas às lutas, conquistas e vivências durante as 3 décadas, desde a implementação da Pedagogia da Alternância em Marabá, método que busca a interação dos estudantes, entre os conhecimentos adquiridos na escola e os vivenciados em seu dia a dia no campo.
“É importante divulgar a nossa experiência e nossa metodologia com a EFA de Marabá, para que possam conhecer o nosso trabalho. Hoje nós temos o maior IDEB entre as escolas do campo de 2º Segmento (6º ao 9º ano). Além dos 15 dias que eles passam na escola e os outros 15,em seus lares, outro diferencial está nos componentes curriculares, como a disciplina de Agricultura Familiar e Práticas Agroecológicas, específicos para trabalhar essas questões voltadas ao campo, já que são alunos de Projetos de Assentamento (PA)”, destaca o Coordenador da EFA da Região de Marabá, Rafael Soares, que trouxe 30 dos seus 90 alunos matriculados na escola, localizada no Km 21, sentido Itupiranga.
Os alunos Marcos Ícaro Reis e Ana Júlia Santos, ambos de 13 anos e estudantes do 7º ano na EFA, compartilharam uma parcela do que vivem diariamente na escola.
“É muito legal estudar essas matérias de agricultura, poder dormir na própria escola, brincar, comer e depois voltar para casa para partilhar o que a gente aprendeu”, expressa ele.
“A Escola Agrícola é minha segunda família e eu levo toda minha experiência para onde moro”, revela a aluna.
Para a Diretora de Ensino do Campo da Semed, Arley Novais, com 93 unidades em funcionamento, Marabá é um município ímpar por possuir um grande quantitativo de escolas no campo.
“Nós, enquanto Rede Municipal de Ensino, tentamos garantir a mesma qualidade da merenda escolar, dos apoios, professores, servidores, formações, mesmo com as especificidades, como o transporte escolar, clima, etc. Tentamos também sempre garantir aquele olhar diferenciado a esses alunos do campo, e a Escola Família Agrícola trabalha esse respeito ao modo de vida deles, o que resgata a participação da família na escola, com os saberes culturais, assim como o conhecimento que esse alunos aprendem na escola é repassado aos familiares”, reforça.
Segundo Damião Santos, coordenador do evento, Marabá foi escolhida para sediar o evento por ser o único município onde há uma Escola de Pedagogia da Alternância em funcionamento no Estado, até então. Além disso, ele explica que a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater-PA), a qual faz parte, sempre teve ligação com a EFA, por ser o órgão oficial do Estado a realizar serviços especializados nas áreas de Ciências Agrárias e Humanas, para conhecimentos e informações tecnológicas no meio rural.
“A Emater assumiu um apoio efetivo para a realização deste evento, pois são muitos anos da ideia da Pedagogia da Alternância no Sudeste do Pará. E a intenção é celebrar esse momento, no sentido de valorizar as memórias, além de responsabilizar a juventude, aqui presente, no sentido de continuar essa história”, complementa o organizador.
Um dos parlamentares da mesa, o Vereador Beto Miranda, frisa sobre a importância desse sistema de educação, principalmente aos Projetos de Assentamento (PA) no município.
“A gente sabe que sem educação, sem conhecimento, a agricultura não vai para frente. Eu tenho andado muito no campo e vejo que esse tipo de educação dá resultados, principalmente nos PA. Por isso, a gente sempre atende o pedido do pessoal da equipe do EFA, com emendas, acompanhando de perto e vendo que tudo está fluindo bem”, expõe.
O encontro recebeu ainda a participação do professor João Paulo Reis Costa, Doutor em Desenvolvimento Regional e que atualmente ministra aulas na Área de Ciências Humanas e Sociais da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (RS).
“É momento para celebrar, porque ao mesmo tempo em que são 30 anos da implantação da Pedagogia da Alternância aqui no Pará, em especial aqui em Marabá, a gente está com 55 anos dela no Brasil, desde 1968. Além de atenuar essa memória, a gente partilha a experiência dentro desse método de ensino-aprendizagem em diversas regiões do país, como eu, que trabalho com ela no Rio Grande do Sul, além de outros que atuam do Mato Grosso, Bahia, e principalmente aqui no Norte. Nós precisamos discutir também a respeito de instrumentos pedagógicos, olhar para frente e ver o que a gente pode contribuir ainda dentro disso, além de exigir mais política pública, entendendo que as crianças e jovens do campo têm o direito de ter uma escola próxima de casa”.
Programação
A programação teve continuidade no sábado, dia 21, quando houve mesa redonda na Escola Familiar Agrícola de Marabá (EFA), com o tema “As contribuições da pedagogia da alternância na construção das políticas públicas da educação do campo”. O momento contou ainda com exposições de trabalhos, relatos de experiências e histórias de vida de agricultores, educadores e egressos das EFA´s. Além disso, houve outra programação com o tema “A contribuição da Pedagogia da Alternância na construção do cooperativismo, Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES), Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e das experiências agroecológicas. A programação encerrou com a “Noite Cultural KM 21”.
No domingo, foram realizadas visitas de estudos em pontos históricos e turísticos, com convidados externos. (Com Secom PMM)
