‘Levo porrada em casa’, diz João Salame sobre não ter asfaltado a própria rua

Em entrevista, João Salame diz que leva 'porrada' em casa por não ter asfaltado a própria rua; promessa de 500 quilômetros de asfalto foi a tônica da campanha do político em 2012

Em sua passagem por Marabá, o ex-deputado e ex-prefeito João Salame Neto (MDB), que administrou o município no quadriênio 2013–2016, convidou o Portal Debate Carajás para entrevista coletiva, na qual foi confrontado pelo jornalista Vinícius Soares — representante do veículo no bate-papo — sobre inúmeros assuntos. Confira abaixo a primeira parte da conversa com o político:

Debate Carajás: João Salame, passados dois anos e meio do fim de seu governo, quais os erros e acertos você avalia ter cometido durante os quatro anos em que esteve à frente da prefeitura de Marabá?

João Salame: Vinícius, nós tivemos muitos acertos. É evidente que eu cometi erros, os quais temos de avaliar com calma, mas o importante é, antes de tudo, analisar o cenário em que eu assumi a prefeitura. Nós assumimos o governo em 2013 e, naquela ocasião, havia duas folhas de pagamento em atraso da gestão anterior, além de uma série de outras situações do funcionalismo público, e conseguimos negociar com os servidores. Os salários foram pagos e ninguém reclamou. Fui empossado com esses problemas e governei na mais profunda crise econômica pela qual o Brasil passou; não por acaso, em 2015, a prefeitura de Marabá sofreu uma redução brutal de suas receitas. Mesmo assim, realizamos obras em todos os bairros e núcleos da cidade, legado que, mais adiante, o povo reconhecerá.

Debate Carajás: Você fala de ‘equívocos administrativos’ cometidos no decorrer da gestão. Quais erros você considera determinantes para a população ter a visão de que seu governo não foi o que prometeu ser?

João Salame: A escolha de minha equipe de governo foi um erro, em primeiro lugar. Talvez tenha errado em não ter feito, após dois anos, uma reforma administrativa. Outro erro que eu certamente cometi foi, ao assumir a prefeitura de Marabá, ter me comportado de forma arrogante com o então governador Simão Jatene (PSDB); eu deveria ter tido mais humildade. Por fim, outro equívoco meu foi, de alguma maneira — ainda que de modo involuntário —, ter enfrentado o Poder Judiciário. Confesso que se arrependimento matasse, eu estaria morto.

Debate Carajás: Por que sua ambiciosa promessa de 500 quilômetros de asfalto não deu certo?

João Salame: Esse foi um outro erro que eu cometi. Primeiro, eu acreditava que a crise econômica não viria; eu pensava que a minha capacidade de produzir quilômetros de asfalto com recursos da própria administração seria muito maior. Eu imaginava que os royalties seriam fartos em meu governo. Segundo, eu esperava uma forte parceria com o governo do estado, assim como com o governo federal, mas em função da crise político-econômica isso não foi possível. No entanto, ao longo de 100 anos, 150 quilômetros de pavimentação foram executados em Marabá, enquanto que no nosso governo foram 182 km, somando pavimentação e recapeamentos importantes. Não fiz os 500 quilômetros, mas fui o prefeito que mais executou pavimentação de ruas no município.

Debate Carajás: Por que, então, você não asfaltou a rua da própria casa, se foi o prefeito que mais executou obras de pavimentação asfáltica em Marabá? Não seria uma contradição?

João Salame: Excelente pergunta. Essa é uma questão que me faz levar porrada em casa [risos]. Os vizinhos me questionam até hoje, inclusive. Talvez eu tenha cometido esse deslize, é verdade, mas isso aconteceu porque eu, preocupado por não ter conseguido os 500 quilômetros de asfalto, fiquei com dor na consciência pela promessa não cumprida em sua totalidade. Foi esse o motivo.

Debate Carajás: Vice é sempre um assunto complicado quando se fala em prefeitura de Marabá. O seu vice foi um problema, visto que encerraram a gestão um de costas para o outro?

João Salame: Apenas no período de meu afastamento. Acredito eu que o Luiz [Carlos Pies] tenha tomado gosto pelo poder e, assim, começou a fazer as coisas da maneira dele, descumprindo alguns compromissos que tínhamos firmado. Fora isso, ele não foi problema. Ele contribuiu muito com a gestão e era sempre muito disposto. Não tenho críticas a fazer ao meu vice, pelo menos em um período de três anos e meio de administração.

Debate Carajás: Em junho, você foi processado pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) por peculato-desvio, com devolução de R$ 12 milhões e prisão em caso de condenação. Para ficar claro, falo do episódio do não pagamento de credores, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Unimed, com dinheiro descontado em folha dos servidores públicos municipais. Como João Salame se defende da ação movida pela instituição?

João Salame: Em primeiro lugar, não há, no Brasil, um ex-gestor que não responda a processo. Mas não desviei dinheiro; acontece que passávamos por uma grave crise econômica e eu tinha de pagar salários, volto a insistir. Eu fiz uma opção social, porque não poderia deixar o pai de família sem receber. Eu tive cinco meses para pagar sete folhas em atraso e paguei seis, restando apenas uma para o meu sucessor, e esse compromisso acabou por comprometer outros, como é o caso desse de R$ 12 milhões. Eu espero, no decorrer do processo, esclarecer todas essas dúvidas, porque não houve dolo, isto é, intenção de desviar dinheiro público para impedir o pagamento dessas instituições.

Aguarde novas partes da entrevista com o ex-prefeito, que serão publicadas pelo portal nos próximos dias.

https://www.youtube.com/watch?v=0Ufez4g06TU&feature=youtu.be

Relacionados

Postagens Relacionadas

Nenhum encontrado

Cadastre-se e receba notificações de novas postagens!