“Vale e BHP”: Justiça determina depósito judicial de R$ 10,3 bilhões em Minas Gerais

O dinheiro será usado na reparação dos danos ambientais e pessoais causados pelo rompimento da Barragem da Samarco, no município de Mariana (MG), onde 19 pessoas morreram, em 2015.
Área afetada pelo rompimento de barragem no distrito de Bento Rodrigues, zona rural de Mariana, em Minas Gerais - Foto: Reprodução

ESPÍRITO SANTO (ES) – A Justiça Federal determinou que Vale e BHP Billiton depositem judicialmente R$ 10,3 bilhões para garantir que todos os programas, projetos e ações em execução pela Fundação Renova, para a reparação dos danos causados pelo rompimento da Barragem da Samarco em Mariana, incluam os municípios indicados na Deliberação nº 58/2017 do Comitê Interfederativo (CIF).

A decisão atende a um pedido de Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Espírito Santo MPES), Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Defensoria Pública do Espírito Santo, Defensoria Pública da União e do Estado do Espírito Santo.

A Deliberação CIF 58 estabelece o reconhecimento de comunidades localizadas no Espírito Santo, a partir de Nova Almeida até Conceição da Barra, como impactadas pelo rompimento da Barragem. No entanto, de acordo com as instituições de Justiça e o estado do Espírito Santo, a Fundação Renova nunca cumpriu essa deliberação, depois do acordo judicial.

“Ao longo dos anos, as empresas e a Fundação Renova simplesmente desconsideraram os municípios litorâneos de seus programas. Passados sete anos do rompimento da Barragem de Fundão, a área costeira/litorânea nunca foi atendida por ações de recuperação”, diz um trecho da petição, ajuizada em setembro de 2022.

Segundo as instituições de Justiça e o governo do Espírito Santo, além da contaminação por metais pesados no litoral do estado, a tragédia causou impactos no turismo, na economia e nas relações sociais. A barragem de Fundão rompeu em Mariana em novembro de 2015, deixando 19 pessoas mortas.

Tragédia de Mariana: Renova anuncia mais R$ 8,1 bi para atingidos | Agência Brasil
Foto: Reprodução

Depósito em 10 parcelas

As instituições de Justiça pediram o bloqueio judicial dos R$ 10,3 bilhões, mas o juiz federal Michael Procópio Ribeiro Alves Avelar decidiu que o montante deve ser apresentado em juízo. A decisão via a acompanhar o pagamento “mais de perto” devido vários artifícios já utilizados pela Vale S.A. para se esquivar de suas obrigações judiciais.

O magistrado determinou que o valor seja pago em 10 parcelas mensais, com intervalo de 40 dias entre cada uma. A primeira deve ser depositada em 40 dias corridos. Em caso de descumprimento, a decisão estabelece bloqueio judicial do valor integral de uma única vez nas contas da Vale e BHP Billiton.

“O parcelamento exposto é adequado, por várias razões. Primeiro porque evita o descontrole financeiro das empresas, que terão tempo para se programar e realizar o depósito adequadamente. Além disso, existe a necessidade de compreender que é necessário um planejamento no tocante à implementação dos recursos”, diz um trecho da decisão, da 4ª Vara Cível e Agrária da SSJ de Belo Horizonte, assinada nesta quinta-feira (30).

O juiz também ordenou que “todos os programas, projetos e ações em execução pela Fundação Renova referentes ao Estado do Espírito Santo” incluam os municípios indicados na deliberação 58 do CIF. Para garantir o cumprimento da obrigação, ele estabeleceu um prazo de 15 dias para que a Renova apresente informações de como se dará essa inclusão.

O procurador da República em Minas Gerais Carlos Bruno Ferreira da Silva disse que a decisão da Justiça é “histórica”.

“Esses R$ 10 bilhões vão ser recebidos pelos entes públicos, a princípio pelo estado do Espírito Santo, para serem aplicados diretamente nas comunidades afetadas (…) Garante a aplicação de dinheiro nessas comunidades e, com isso, melhora da economia, melhora do meio ambiente e a recuperação que todo mundo espera para essas comunidades de uma forma completa”, afirmou.

Samarco retomou operações sem quitar multas com Ibama – Sociedade – CartaCapital
Foto: Reprodução

O que dizem as empresas

Em nota, a Vale afirmou que “não foi notificada da decisão e se manifestará oportunamente no processo”. Disse ainda que “reforça o compromisso com a reparação integral dos danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão”.

A BHP Billiton respondeu que “ainda não foi notificada sobre essa decisão e que continua a trabalhar em estreita colaboração com a Samarco e a Vale para apoiar os programas implementados pela Fundação Renova”.

As duas empresas afirmaram que, até janeiro de 2023, mais de 410,8 mil pessoas foram indenizadas e mais de R$ 28,4 bilhões foram destinados para as ações executadas pela Fundação Renova. A Fundação Renova afirmou que não foi notificada da decisão da Justiça.

Operação realizada no dia 18 de março de 2023 – Foto: Reprodução

Problemas no Pará

A cada reportagem sobre as ações judiciais envolvendo a Vale e a BHP Billiton deixam a população da zona rural da cidade de Canaã dos Carajás e Parauapebas, no sudeste do Pará, de “cabelo em pé”. Nestes locais, ficam localizadas a “Mina do Sossego”, “Barragem do Sossego” e a “Barragem do Gelado” (a mais perigosa do Brasil) que podem destruir a vida e o patrimônio de centenas de moradores, a qualquer momento, em caso de rompimento, em um “piscar de olhos”.

De acordo com os moradores da Região de Carajás, a Vale S.A. é “mestre” em não cumprir decisões judiciais que atinja seu patrimônio. Nas últimas décadas, a multinacional vem causando sérios danos ao meio ambiente, polui rios, igarapés e ainda joga a culpa nos pequenos mineradores de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, para a tristeza dos mineradores .

Como “pano de fundo” para realização de suas tramoias ambientais, a Vale utiliza seu poderio financeiro para fazer com que seus “tentáculos” existentes na política, judiciário, órgãos ambientais e órgãos de segurança pública massacrem os pequenos mineradores que sobrevivem da extração artesanal de cobre em Canaã dos Carajás e Parauapebas, onde as chamadas “operações” destroem, agridem os trabalhadores e queimam tudo que encontram pelo caminho.

As denúncias sobre as empresas sem regularização para lavra com o apoio logístico e financeiro da Vale culminam em quase uma operação da Polícia Federal (PF) por mês contra os trabalhadores. Uma das finalidades dessa repressão constante é passar a imagem de uma Vale “santinha”, porém a decisão judicial do bloqueio de R$ 10,3 bilhões para reparar minimante os prejuízos causados pelo rompimento da Barragem da Samarco, em Mariana (MG), mostra justamente o contrário. (Portal Debate, com G1/Minas Gerais)

Mina Salobo tm trabalhadores em área onde não há tempo de resgate em caso de rompimento, segundo MPT — Foto: MPT/Reprodução
“Mina do Salobo” mantém trabalhadores em área onde não há tempo de resgate em caso de rompimento, segundo MPT/PA — Foto: MPT/Reprodução

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