Todos os sábados, o sino bate pontualmente às 8h30 na Escola Alegria do Saber. É nesse espaço, feito de lona, plástico e outros materiais recicláveis, que Carlos André Costa Rocha da Silva, de 21 anos, dá aulas de reforço para cerca de 60 crianças do bairro Novo Horizonte, na periferia de Miracema do Tocantins (a 67 km de Palmas).
A escola é dividida em quatro salas de aulas, biblioteca, diretoria e sala de recursos. Falta só o banheiro, mas quem precisa ir ao toalete recorre à casa da tia do jovem, ao lado da escola.
O terreno onde está a Alegria do Saber era da avó de Carlos. Cadeiras, mesas, quadros e material pedagógico também foram cedidos por amigos e apoiadores. A escola funciona aos fins de semana e feriados das 8h30 às 17h, com recreio e intervalo para o almoço, preparado com alimentos doados.
As aulas extracurriculares são oferecidas para crianças até o sexto ano do ensino fundamental. Carlos André é professor, mas também aluno: está no primeiro ano do ensino médio e quer cursar pedagogia. Quem o ajuda são a professora Antônia Silva Antero e cinco jovens voluntários como ele, que já receberam o reforço escolar da Alegria do Saber.
“Cada professor tem 30 minutos de aula e em cada turno as crianças têm um recreio. Elas chegam aqui, vão para as salas, a gente passa as atividades e elas trazem as tarefas da escola para fazer aqui”, conta Carlos.
Amanda de Oliveira Sousa, 7, é uma das alunas da escola. “A professora daqui me ajuda a fazer as tarefas da escola. Gosto muito daqui, dos colegas, do lanche, mas, principalmente, das aulas”, conta.
Até os 11 anos, André tinha dificuldade para acompanhar os colegas na escola, como conta sua tia Maria da Penha Rocha. Depois, começou a ter notas melhores e repassava aos colegas o que aprendia em classe. Passou a dar aulas para os parentes e, depois, para os vizinhos. O projeto cresceu até virar a escola Alegria do Saber.
Como a maioria dos alunos é de famílias pobres, o lanche é um dos principais atrativos. A comida servida vinha da cozinha da casa de Carlos até o momento em que a escola passou a receber doações.
Depois que um vídeo sobre a escola improvisada circulou na internet em setembro passado, vizinhos montaram uma Associação dos Amigos da Escolinha para tentar arrecadar mais recursos.
Também estão nos planos da associação oferecer aulas para jovens e adultos e ceder espaço para as mães dos alunos fazerem artesanato como forma de complementar a renda familiar.
O sonho mais imediato de Carlos é ampliar a escola, mas com paredes de verdade. Quando há ventania e chuvas, a lona cede, o espaço é destruído e ele precisa construir tudo novamente.
DOL