Gaiola fica em casa no carnaval da pandemia

Estrutura de palco e trios elétricos abriram alas para o vazio numa terça normal | Foto: Vinícius Soares

O carnaval de 2021 já entrou para a história. Não pelo que foi, mas pelo que não foi. O silêncio retumbante, por exemplo, do palco de concentração do tradicional bloco Gaiola das Loucas, instalado no início da Avenida Tocantins, no Núcleo Cidade Nova, soa estranho, mas é necessário.

Os membros da diretoria do maior bloco de rua do interior do Pará entenderam a gravidade do momento de pandemia e, acertadamente, cancelaram a festa da terça-feira gorda antes mesmo que a prefeitura se manifestasse a esse respeito.

Longe de uma Avenida Tocantins repleta de foliões, vendedores ambulantes, trios elétricos e carros com som automotivo, na cadência de funk e sertanejo, o dia foi de movimento regular. Nenhum indício apontava para Momo. Aliás, algumas pessoas ainda transitavam pela via de máscara… uma muito diferente, claro, e nada festiva.

Cadê o povo que estava aqui?
Algumas pessoas exercitavam livremente pelo canteiro da Avenida Tocantins no fim da tarde

Os estabelecimentos comerciais situados na área de concentração do bloco não instalaram as suas grades na área externa para fins de preservação do patrimônio, em grande parte de vidro. Um alívio, quem sabe.

Muitos também não foram às compras de abadás do bloco, em demonstração de apoio à festa, ou de fantasias para garantir os cliques no maior e mais irreverente carnaval de Marabá. Lojistas contaram as perdas.

Durante o dia, perfis de internautas locais não repercutiam as atrações do bloco. Grupos de amigos não combinavam transporte ou encontro para a troça. A purpurina passou longe da timeline… e da Tocantins.

Milhares de pessoas, fantasiadas ou não, teriam tomado a Tocantins nesta terça em tempos normais

Claro que nem tudo é perfeito no enredo de um ano imperfeito. Por mais que o estado e a prefeitura tenham enrijecido a fiscalização, não faltaram os irresponsáveis, com festas clandestinas. É nota que destoa no carnaval em que, felizmente, o bom senso imperou. É preciso aplaudir com vigor o bloco que amargou prejuízos em prol da preservação de vidas.

Não havia mesmo escolha. A situação do estado e do município é grave. Já são 8.074 os mortos no Pará e 275 em Marabá. A campanha de vacinação, que por aqui completa um mês na sexta-feira, dia 19, segue em ritmo lento – apenas 3.331 profissionais de saúde e idosos em abrigos ou acima dos 85 anos receberam a primeira dose até aqui, o que representa muito pouco na totalidade.

Portanto, um carnaval que reproduzisse o velho normal, com milhares de foliões nas ruas, aumentaria o tamanho do desastre. As aglomerações vistas nos últimos dias, embora não tenham sido predominantes e até combatidas pela segurança pública, já terão impacto. Basta ver o resultado das festas de fim de ano.

Praça do Novo Horizonte não recepcionou foliões e agradou a poucas crianças

Além disso, não há clima para festa em uma cidade que vive luto permanente desde abril passado. Por isso, a terça-feira foi diferente na Tocantins de outrora, que costumava abrigar mais de 50 mil pessoas.

Em 33 anos de existência, esta foi a primeira vez que o Gaiola das Loucas ficou em casa. Por um motivo nobre, certamente. Parafraseando os últimos caracteres de uma sábia publicação no Facebook neste feriado: “Muitos carnavais virão. A vida é uma só”. (A Editoria)

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