Programação maior Sem atos oficiais do governo federal, coube à prefeitura, ao estado e ao próprio movimento negro comandar uma grande programação em celebração ao Dia da Consciência Negra.
As celebrações, por sinal, começaram bem antes. Há cinco anos, o grupo negro Anajô comanda o projeto “Vamos Subir a Serra”. Neste ano, até como uma resposta ao descaso da Fundação Palmares à luta negra, ele teve sua programação ampliada de cinco para sete dias.
“Nós fazemos essa ação dede 2017 como uma forma de participação da sociedade civil organizada. Neste ano estamos com uma programação extensa e bonita”, afirma a jornalista Valdice Gomes, integrante do Anajô e coordenadora do projeto.
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Para ela, nada justifica o órgão federal criado para gerir as políticas afirmativas e inclusivas de negros e quilombolas esteja fora dessa data.
“É lamentável e é um descaso com a Serra da Barriga e com a história do 20 de novembro, com o Dia da Consciência Negra. Como conhecemos o gestor que está na Palmares [Sergio Camargo], não é uma surpresa para o movimento negro. É mais uma demonstração de que ele não se preocupa com aquilo que é função da autarquia”, diz.
“Mas não é por isso –e o Brasil inteiro está dando essa demonstração– que o 20 de novembro vai deixar de ser celebrado. Fizemos questão de fortalecer a nossa programação, porque este ano é uma data mais especial e completa 50 anos do primeiro ato do Dia da Consciência Negra. É um dia muito simbólico para a população negra brasileira”, afirma Valdice Gomes, coordenadora do projeto “Vamos Subir a Serra”.
O meio século de atos da data existe porque, em 1971, um grupo de jovens negros se reuniu no centro de Porto Alegre para pesquisar a luta dos seus antepassados e questionar a legitimidade do 13 de maio (data da assinatura da Lei Áurea) como referência de celebração do povo negro.
Em 2011, é oficialmente criado o Dia da Consciência Negra. Um projeto aprovado no Senado torna a data como feriado nacional, mas ainda não foi implementado.
“Não é uma data de governo”, diz ex-presidente
Para o ex-presidente da Fundação Palmares Erivaldo Silva, o Dia da Consciência Negra é um marco para os movimentos negros e vai além das fronteiras do Brasil.
“Essa é a data maior do movimento negro no Brasil, diria até da América Latina, porque a Serra da Barriga foi tombada pelo patrimônio histórico do Mercosul. Então não é uma festa só do Brasil. E ela é um dia de reflexão e comemoração pelo herói nacional Zumbi dos Palmares”, diz.
Ele afirma que foi a partir da retomada da Serra da Barriga, na década de 1980, que a região cresceu em importância, sendo transformada em patrimônio histórico brasileiro nos anos 1990.
“A gente iria transformar a serra em patrimônio da humanidade em 2018, mas infelizmente entrou esse governo, que não tem nenhum apreço pela cultura afro”, diz.
Silva afirma ainda que a atual gestão não representa o movimento negro e tem atuado no sentido contrário do que prega a fundação em sua essência.
“O 20 de novembro não é uma data de governo, a Palmares não é uma instituição de governo – é de Estado. Então, quer queira, quer não, vão existir movimentos maravilhosos na Bahia, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais, em todo o país, porque ele independe desses que estão no governo. O Brasil vai comemorar.”, protesta Erivaldo Silva, ex-presidente na Fundação Palmares.
Procurada na quarta e ontem, a Fundação Palmares não deu resposta sobre o porquê do abandono à data histórica. O atual presidente da fundação, Sergio Camargo, já demonstrou não reconhecer Zumbi como um herói negro e fez até ofensas, no ano passado, ao maior líder negro do país, dizendo que ele é uma “fraude”. (UOL)