A Escola Família Agrícola (EFA), pertencente à rede municipal de ensino de Marabá, tem muito o que comemorar com a aprovação de 18 alunos que irão estudar curso técnico de Agropecuária, com treze aprovados e curso técnico de Agroindústria, com cinco aprovações, no Campus Rural do Instituto Federal do Pará (IFPA).
No último processo seletivo, o edital do IFPA levou em consideração notas do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, além de uma entrevista com os candidatos inscritos.
Uma das alunas aprovadas foi Meilyane Borges, 15 anos, de São Domingos do Araguaia e entrou na EFA para cursar o 9° ano, tendo o objetivo de ingressar no Instituto. Ela conta que o processo seletivo foi bastante tranquilo e que saiu bem na entrevista graças às atividades de apresentação que realizou ao longo do ano, na escola. Ela compartilha o sentimento em relação à escola e o que espera da nova etapa em sua vida.
“Foi uma experiência muito incrível. A EFA me trouxe mais visão de futuro, a ter um pensamento melhor e me fez uma pessoa melhor. Eu tenho uma grande expectativa em aprender muito e passar o que eu aprendi na escola para o próximo”, destaca a estudante.
O estudante Felipe Silva tem 17 anos e entrou na EFA no ano passado. Ele é de Marabá e sempre teve familiaridade com o trabalho no campo por causa da família.
“A minha expectativa é que, se Deus quiser, vou ser um bom aluno no IFPA. Quero agradecer à EFA por ter me dado essa oportunidade incrível que é entrar em um instituto federal, que era meu sonho entrar”, celebra o estudante.
No penúltimo processo seletivo foram 10 estudantes selecionados, o que representa um aumento de 80% para o resultado atual.
O diretor da EFA, Rafael Soares, explica que a equipe da escola sempre se reúne para dar orientações aos estudantes interessados em seguir para o IFPA, já que a experiência no espaço é um reforço a mais para o processo seletivo.
“Uma expectativa muito grande tanto das famílias quanto dos alunos da turma do 9º ano ingressarem no IFPA, uma instituição federal, cursar o ensino médio integrado ao curso técnico. A gente tem alunos oriundos de projetos de assentamento. Então, essa realidade que a gente já dá como base aqui na EFA, eu acredito, sem dúvida alguma, que eles saem à frente de outros alunos”, reitera.
Rebeca Oliveira tem 15 anos e optou pelo curso técnico em Agroindústria. Ela pesquisou sobre a formação e se identificou mais com a produção industrial de alimentos.
“Eu me inscrevi e jurava que não ia passar porque era muita gente concorrendo, aí quando saiu o resultado, meu nome estava lá. Eu fiquei muito feliz. Eu vou levar da EFA comigo o sentimento de família. Aqui nós somos uma família”, ressalta a estudante.
Educação diferenciada
A Escola Família Agrícola existe desde 2014 e funciona sob a pedagogia de alternância. Há uma turma para cada ano do segundo segmento da educação fundamental.
Os alunos estudam em regime de semi-internato. Durante duas semanas permanecem na sede da escola e nas outras duas voltam para casa no chamado “tempo comunidade” com atividades que precisam desenvolver.
Enquanto as turmas de 6° e 7° anos estão na sede, as turmas de 8° e 9° anos estão no tempo comunidade, sempre intercalando. Atualmente, são 81 alunos.
A escola conta com todas as disciplinas da grade comum acrescidas da disciplina Agricultura familiar e práticas agroecológicas. Nela, os estudantes têm contato com a terra e as diversas atividades inerentes a ela como avicultura, horta, piscicultura e outras. As demais disciplinas também trabalham as práticas agrícolas em seu currículo.
Por bimestre, cada turma tem um tema gerador que resulta em um trabalho de culminância apresentado ao final envolvendo as disciplinas.
Para o professor de História, Felipe Lopes, foi um grande desafio e uma boa experiência compreender a pedagogia da alternância proposta pela escola. Ele começou a dar aula na EFA em 2020 e fala sobre a importância do espaço escolar na vida dos estudantes.
“Quando começaram as aulas presenciais, nós percebemos que muitos alunos têm a identidade com o campo, tem a identidade com a agricultura, piscicultura, avicultura. Acredito que nós aprendemos mais com eles do que a gente pôde ensinar. A gente aprendeu muito com os alunos e isso foi bom”, afirma o professor.
Para o coordenador pedagógico da EFA, Ederaldo Luz, os resultados no processo seletivo do IFPA são reflexos do que é praticado no dia a dia da escola.
“Quando a gente vê esses resultados, a gente percebe o quanto está sendo significativo a Escola Família Agrícola na vida desses alunos, das famílias, da comunidade de um modo geral. Todo ano nós aprovamos alunos no instituto, uma quantidade expressiva. Com isso, a gente percebe que o nosso trabalho desenvolvido aqui dentro da escola, nossa organização pedagógica é diferenciada, pedagogia da alternância, está fazendo sentido, está tendo resultado”, indica o coordenador pedagógico.
Segundo a diretora de ensino do campo da Secretaria Municipal de Educação de Marabá (Semed), Arley Novais, os cursos serão de grande importância para a formação dos alunos.
“Os dois cursos ofertados pelo IFPA são pertinentes, voltados para esse contexto do campo, para a vivência dos alunos. É importante essa formação na área da prática agroecológica daquilo que desenvolvem como moradores do campo e que querem permanecer no campo e desenvolver aquele espaço onde vivem”, avalia a diretora.
Uma parceria importante que a EFA possui é com a Secretaria Municipal de Agricultura (Seagri), que acontece desde 2020. A escola conta com dois funcionários da Seagri que buscam colocar em funcionamento os projetos da secretaria no ambiente escolar para colaborar com as aulas práticas dos estudantes.
Nesse sentido, a escola é uma unidade demonstrativa dos programas executados pela Seagri. Atualmente, a escola conta com suinocultura, pastejo rotacionado para gado leiteiro, piscicultura e avicultura
O secretário adjunto de Agricultura, Marcos Eleres, ressalta a importância da parceria com a Semed na EFA e o resultado com as18 aprovações.
“A gente consegue tirar o aluno da parte teórica e levar para a parte prática em todos os programas da Secretaria de Agricultura. Temos a horta, estamos levando a hidroponia. A gente leva alguns produtores para conhecer as unidades, mas principalmente os alunos com os técnicos. Sempre há palestras, dias de campo. É uma interação boa. Meus parabéns aos alunos. A gente tem a plena certeza que daqui a alguns anos boa parte desses alunos trabalharão na Seagri”, avalia o secretário adjunto.
Essa parceria nas práticas agrícolas reforçou o ensino de atividades que já eram conhecidas de Webert Honorato, 15 anos, morador do Residencial Tiradentes. Os avós são agricultores e tudo o que aprendeu na EFA e aprenderá no IFPA, no curso de técnico em Agropecuária, será imprescindível para sua formação.
“A EFA me ajudou muito, aprendi mais. É uma ótima escola para aprender. Meus avós mexem com terra, eu quis só aprender mais. A experiência aqui na EFA foi muito boa, aprendi muitas coisas que quando eu cheguei aqui não sabia. Aprendi muito. Minha expectativa é dar o meu melhor, me esforçar mais também e ser um bom aluno”, promete.
Na visão do Diretor Geral de Ensino da Semed, Fábio Rogério Rodrigues, a aprovação dos estudantes é resultado do trabalho pedagógico realizado pela equipe da escola.
“É uma avaliação positiva e a Secretaria Municipal de Educação de Marabá reconhece e parabeniza e agradece à Escola Família Agrícola pela aprovação dos estudantes. Isso é motivo de honra, é motivo de alegria pelo trabalho desenvolvido por aquela comunidade escolar, pela equipe gestora, colocando os estudantes como protagonistas da história, por meio da sua aprendizagem”, pontua.
Abaixo a relação dos estudantes aprovados no curso técnico de Agroindústria e Agropecuária:
Lorran da Conceição Lopes
Rebeca Silva Oliveira
Nailson da Silva Fonseca
Pedro Lucas Ribeiro
João Carlos Trindade dos Santos
Adriele Souza Silva
Arthur Santos da Silva
Ana Luiza Rates
Cynara Beniz da Silva
Ester Sousa Lopes
Felipe Santos Silva
Gabriel Costa Vieira
Joana Eduarda Montel Carvalho
João Vitor Trindade dos Santos
Kaynan Noronha da Silva
Meilyane Borges da Silva Martins
Webert Ricardo Ribeiro Honorato
Wesley Pereira Rocha
