Doméstica se diz vítima de fake news em Marabá

A trabalhadora se defende de possível fake news divulgada pela mídia da cidade | Foto: Arquivo Pessoal

A doméstica Samara Monteiro, de 31 anos, virou notícia na sexta-feira (12) em Marabá depois de ser intimada a depor na 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil por suposto crime de estelionato praticado em um conhecido grupo de compra e venda de artigos novos e seminovos na internet. Ela alega ter sido acusada injustamente de vender tijolos alheios via Bazar Marabá (Facebook), o que configura o crime previsto no artigo 171 do Código Penal.

Samara procurou o Portal Debate Carajás para desmentir as graves acusações veiculadas na mídia. Ela, inclusive, registrou boletim de ocorrência contra os responsáveis pela divulgação de um texto jornalístico que atribui a ela o cometimento do crime de estelionato. O caso foi encerrado pela Polícia Civil por falta de indícios contra Samara, que foi prontamente liberada após um curto depoimento, mas a imprensa da cidade noticiou que ela havia ficado presa. A mulher promete pedir reparação por danos morais na Justiça.

A doméstica, que não bastasse o chamado policial durante a manhã para esclarecer um enorme mal-entendido na delegacia, também viu a própria imagem vulgarizada na imprensa com a retranca e legenda “Está presa. Samara Monteiro agia com outro nome na rede social para aplicar o golpe”. A trabalhadora alega estar abalada moral e psicologicamente com os ataques que vem sofrendo na internet e também com a repercussão negativa do caso na comunidade, fruto da notícia com informações inverídicas. Ela contratou um advogado para estudar o que pode ser feito contra os responsáveis pelo transtorno.

“Quando eu estava na delegacia esperando para depor, o jornal estava fazendo outra matéria, com outras pessoas, e nesse intervalo um repórter aproveitou para tirar uma foto minha sem eu perceber, às escondidas. Isso foi errado. Eu estava esperando para provar que não tenho nada a ver com estelionato. Não vendi tijolos de outra pessoa e muito menos fui presa”, defende.

Conforme a mídia, Samara foi levada para a seccional em uma viatura da Polícia Militar e ficou presa depois de constatado suposto crime de estelionato cometido por ela na Rua Vila Lobos, situada no Bairro da Paz. O local, porém, é distante pelo menos 2 km da residência da doméstica, que fica no Bairro Bom Planalto, também no Núcleo Cidade Nova. Além disso, Samara diz ter ido à seccional de moto, o que desmantela a notícia confusa.

Tudo isso teria acontecido depois de uma mulher chamada Adriana Souza compartilhar no grupo de vendas Bazar Marabá – conhecido palco de golpistas no Facebook com mais de 300 mil membros – a venda de 350 tijolos por R$ 250. Detalhe: com um número pertencente a Samara para negociação, o que motivou a presença dela na delegacia depois de consulta aos dados do proprietário do número.

“Eu tive o meu celular roubado há algumas semanas e com ele estava o meu chip antigo, com o número para contato na publicação da mulher chamada Adriana, que eu desconheço quem seja. Possivelmente, os verdadeiros responsáveis pela venda dos tijolos alheios estavam usando o meu número para cometer o crime. Vai saber se esse foi o único crime. Então eu já pedi o bloqueio do número, que está em meu nome, para a operadora”, garante.

Samara continua, demonstrando tranquilidade na fala, em áudios enviados ao Portal: “Eu nunca fui presa. Sou uma pessoa honesta, que paga altos impostos e todas as contas em dia. Não tenho necessidade de roubar ou vender o alheio. Estou sendo covardemente acusada de um crime grave não pela Justiça, mas por um jornal que tem profissionais com dificuldade de interpretar os fatos. O delegado me liberou depois do depoimento porque eu estava sendo acusada injustamente por conta da utilização indevida do meu número antigo”, sustenta.

Na avaliação dela, seguindo entendimento constitucional corroborado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, todas as pessoas são inocentes até que se prove o contrário. Porém, o que tem sido observado ultimamente é uma inversão completa do princípio da presunção de inocência. Isto é, todos são culpados até que se prove o contrário.

“Para essa mídia, que está muito desacreditada e apela sempre que encontra a oportunidade, todas as pessoas decentes são criminosas. Digo isso com todo respeito às pessoas que fazem jornalismo sério. Ninguém mais pode ir à delegacia que já foi condenado e está cumprindo pena. Isso é anormal. Foge de tudo que se aprende até no ensino básico”, ironiza.

Samara contesta com veemência que tenha comercializado o alheio. Ela foi questionada pelo Portal diversas vezes e a todos os questionamentos procurou responder com a serenidade de um inocente. Em um deles, o repórter perguntou o motivo de ela não ter procurado o jornal responsável pela veiculação do fato para restabelecer a verdade, ao que ela respondeu ter perdido a confiança.

Na matéria veiculada, o jornal justifica que Samara não quis gravar entrevista na seccional. Ela dá outra versão dos fatos. “Eu fui abordada com muita ignorância pelo repórter deles. Foi grosso e me tratou como se eu fosse uma criminosa, fazendo piadinhas de mau gosto. Deveria ter mais respeito com as pessoas, até pela própria condição de profissional da área jornalística. Como assim uma pessoa que diz ser da imprensa fica opinando sobre os acontecimentos dessa maneira? Isso não é ensinado em lugar algum. Por isso eu não falei nada a ele e não me arrependo. Aguarde”.

A trabalhadora doméstica critica a pressa da mídia em publicar as informações, o que para ela pode ser a causa de erros ainda mais graves contra inocentes. “Que o meu caso, de uma pessoa que só foi à delegacia prestar esclarecimentos pela utilização criminosa de um número de celular, sirva de exemplo para que ninguém mais sofra o que eu estou sofrendo. Eu perdoo os envolvidos na fake news, mas eles têm que ser responsabilizados”, finaliza. (Portal Debate Carajás)

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