Crônica: Uso da língua inglesa em tempos de coronavírus no Brasil

Chega a ser engraçado a maneira como as elites, me refiro a todas elas, importam palavras ou expressões de outras línguas, principalmente, do inglês mercadológico para se ‘separar’ do falante comum da língua portuguesa falada no Brasil. Os críticos vão me acusar de fazer apologia à xenofobia linguística.

No início da pandemia da Covid-19, o isolamento social fechou os restaurantes. Os proprietários só poderiam trabalhar através da modalidade “delivery” que, traduzida para o nosso português, nada mais é que uma “entrega”. “Por que não passaram a utilizar a nossa velha e conhecida ‘entrega em domicílio?”. Simples. Não é chique.

Depois, os ‘marrentos’, na hora de ‘filar a boia’, como se fala nas ‘quebradas’, para não se contaminar, passaram a exigir o atendimento “drive thru”, onde o cliente ‘não precisa sair do carro’ para ser atendido. A simples expressão: “Meu camarada, traga uma ‘marmitex’ ou ‘quentinha’ aqui no carango, por favor!” Tornaria a comunicação muito mais eficiente entre nós reles mortais.

Acho esse modismo bobo, uma ‘frescura linguística’, mesmo sabendo que a língua portuguesa é um organismo vivo, necessita importar palavras de outras línguas e criar neologismos (novas palavras) para acompanhar a evolução de seus usuários, para não ser extinta como aconteceu, por exemplo, com a língua latina.

Como o uso de uma língua poderá libertar, oprimir ou segregar as camadas mais vulneráveis do ponto de vista social, surgiu o tal do “home office”. “O que diabo é isso?”. Indaguei. Perguntei a um amigo jornalista, onde ele se encontrava, pois precisava conversar com ele. “Estou em home office. Trabalho em casa”. Ele respondeu. Um tradutor disponível na internet, me respondeu que o significado da expressão é “escritório em casa” ou “trabalho em casa”.

Os dias de pandemia foram se passando, os shows foram cancelados em todo o Brasil. Como a ‘grana’, o ‘cacau’ ou ‘bufunfa’, ficaram escassos, eis que um iluminado pensou em fazer uma “live”. No auge da pandemia virou uma ‘febre’ entre os fãs de diversos artistas, ou seja, nada mais que um programa gravado ao ‘vivo’, perante um determinado público.

Antes desses termos oriundos do inglês anglo-saxão, o brasileiro já convivia com o “fast food” (comida rápida), no aeroporto fazia o “check-in” (registro de entrada) e no restaurante preferia o “self service” (cliente se serve). Para finalizar a ‘sopinha’ de palavras inglesas, em nosso cardápio diário, surgiu o SARS-CoV-2 ou simplesmente coronavírus.

Pedro Souza

Licenciado em Letras e Artes pela Universidade Federal do Pará

 

 

 

 

Relacionados

Postagens Relacionadas

Nenhum encontrado

Cadastre-se e receba notificações de novas postagens!