Entrevista com o delegado Vinícius Cardoso, diretor da 21ª Seccional de Marabá

O delegado Vinícius Cardoso das Neves, diretor da 21ª Seccional de Polícia Civil de Marabá, abriu espaço em sua agenda para conceder entrevista exclusiva ao Portal Debate Carajás. Durante quase uma hora, demonstrando conhecimento da estrutura da instituição, bem como disposição para combater o crime na região, Vinícius respondeu aos questionamentos do veículo. Confira a íntegra da entrevista:

Debate Carajás: Quais cargos importantes o senhor ocupou na Polícia Civil antes de chegar à função de diretor da 21ª Seccional Urbana de Marabá?

Vinícius Cardoso: Eu estou prestes a completar 20 anos como policial; tenho, portanto, 19 anos de atuação na polícia. Antes de ocupar o cargo de delegado, que já ocupo há 11 anos, eu era agente de Polícia Civil no estado de Goiás. Em 2006, fui aprovado em concurso público e, em 2007, fiz faculdade de Direito, sendo que em janeiro de 2008 ocorreu a minha notação. Eu já respondi como titular pelas delegacias dos municípios de Itupiranga e São Domingos, sendo que esta última arrogava por São João, Palestina e Brejo Grande. Também já fui titular da delegacia distrital do núcleo Cidade Nova, delegado plantonista desta seccional e titular da Divisão de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio.

Colunista Vinícius Soares entrevistou delegado na seccional

Debate Carajás: De uma forma geral, quais os maiores desafios que Vinícius Cardoso enfrenta enquanto diretor da seccional?

Vinícius Cardoso: O maior desafio, sem nenhuma dúvida, é a repressão à criminalidade em nosso município. Fato é que Marabá sofre de alguns fatores que fomentam o crime, sendo um deles o tráfico de drogas, e, em sendo o combate ao banditismo o grande desafio, otimizar o nosso efetivo torna-se a principal tarefa, para que, assim, possamos atender em diversas frentes: a frente procedimental, em relação a requisições e autos processuais; o atendimento ao público, chamado de demanda espontânea; e a investigação, que é a atividade primeira da instituição.

Debate Carajás: Quanto ao funcionamento da delegacia, quais são os serviços disponíveis hoje?

Vinícius Cardoso: A 21ª Seccional de Marabá é dividida entre Plantão – que é responsável por atender situações flagranciais, ou seja, qualquer prisão realizada pelos órgãos de segurança, como Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Guarda Municipal de Marabá, é apresentada neste serviço ao delegado plantonista –, demanda espontânea (atendimento ao público) e instauração de inquéritos por portaria, que demandam investigação. Este é o setor de expedientes, que é responsável pelas requisições do Ministério Público e por processos que retornam para nova diligência. Temos aqui, também, a Delegacia de Homicídios, que é incumbida de apurar homicídios dolosos consumados e latrocínios consumados, além de um setor de investigação criminal, em que um papiloscopista faz todo o trabalho que envolva material datiloscópico, isto é, ele faz a identificação criminal daquele indivíduo que é preso sem identidade, ou que há suspeita de adulteração do documento.

Debate Carajás: Que medidas estão sendo tomadas para combater a criminalidade em Marabá, de maneira geral?

Vinícius Cardoso: Nós temos trabalhado em dois flancos, sendo um deles o trabalho conjunto com outros órgãos de segurança pública. Em Marabá, há uma força-tarefa nesse sentido. Todas as quartas-feiras, à tarde, os órgãos se reúnem; são eles: Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Guarda Municipal, DMTU, Detran, Patrimonial, Semma e outros. Nessas reuniões, nós discutimos o trabalho realizado na semana anterior e novas ações são programadas para a semana que entra. Isso vem reduzindo a criminalidade sobremaneira. Além desse trabalho integrado, o outro flanco é a nossa atividade interna, através das nossas operações, como a Operação Veraneio, que cumpriu mandados de prisão contra foragidos da Justiça nesse período de férias, início de verão, em que há balneários, praias e outras atrações turísticas. Temos, também, operações de combate ao tráfico de drogas, a exemplo da Operação Redimo, que aconteceu na Vila do Rato, no núcleo Velha Marabá. Vale salientar que o apoio logístico do governo do estado tem sido fundamental na realização dessas operações, que por sua vez colocam o dedo na ferida da criminalidade e reduzem os índices em Marabá e região. Para a Expoama e o veraneio, que se conste, temos três escrivães de plantão e remunerados na delegacia, algo inédito por aqui.

Debate Carajás: Facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho (CV), entre outras, estão arraigadas em Marabá e nas cidades circunvizinhas, causando mortes e dominando o tráfico de drogas. Como combater essas verdadeiras “máquinas do crime”?

Vinícius Cardoso: Muitos acham que não, mas Marabá, que por natureza é uma cidade polo, sofre com os mesmos problemas das capitais, e um deles é o domínio das facções criminosas. No entanto, as mesmas vêm sendo monitoradas continuamente por aqui, com o intuito de não deixá-las se alastrar pelo município, como ocorre em inúmeras cidades brasileiras. Elas existem, sim, mas em menor número, graças ao incessante trabalho da Polícia Civil. Também temos operações nesse sentido, que já foram deflagradas na Folha 33, Vila do Rato, Santa Rosa e outros pontos de Marabá, com o intuito, sobretudo, de coibir o tráfico de drogas, principal meio de sobrevivência dessas organizações criminosas. Cabe acentuar que o tráfico é o crime mais deletério de nossa sociedade, pois desencadeia muitos outros tipos de delito, como o roubo, o furto, o latrocínio e, tenha certeza, os assassinatos, muitos deles “acertos de conta” por alguma substância que não foi paga.

Debate Carajás: Quais as políticas mais efetivas da Polícia Civil no combate ao tráfico de drogas em Marabá?

Vinícius Cardoso: No que toca ao tráfico de drogas, nós temos uma equipe específica de investigação aqui na seccional, com delegado, escrivão e investigador. Essas pessoas estão focadas na investigação e combate de organizações criminosas, ligadas intrinsecamente ao tráfico de drogas. Uma das políticas mais efetivas com o objetivo inequívoco de reprimir o tráfico é a realização de operações pontuais nos locais de maior recorrência de drogas, volto a citar, Folha 33, Vila do Rato, Santa Rosa e outros pontos da cidade, tudo isso graças ao trabalho de quem eu citei inicialmente. Inclusive, nós temos uma meta semanal aqui na delegacia de prender um traficante a cada fim de semana, meta essa estipulada pelo superintendente Thiago Carneiro Rodrigues assim que ele chegou.

Debate Carajás: A Polícia Civil de Marabá enfrenta dificuldades ao lidar com a investigação e a resolução de homicídios?

Vinícius Cardoso: O crime de homicídio pode ser dividido de duas formas: crime passional, que é motivado por embriaguez e outros banais, e crime premeditado. No caso do passional, é mais fácil de elucidar porque o autor não se resguarda ou não toma medidas para não ser identificado, por não ter sido uma ação premeditada. Esses são resolvidos em um percentual bastante satisfatório. A dificuldade é com relação ao crime planejado, a exemplo da pistolagem, porque o autor, que geralmente é o “mandante”, não executa, sendo que terceiros o fazem. Nesse tipo de crime, em especial, você não consegue saber o porquê, o motivo da execução, que é uma das primeiras coisas que nós tentamos levantar para identificar a autoria. O autor faz de tudo para não ser identificado e encontrado. Então, sim, enfrentamos dificuldades com a investigação e a devida resolução de homicídios em Marabá, mas os dados estão aí para apontar que, mesmo assim, a Delegacia de Homicídios tem efetuado um brilhante trabalho, através do delegado Toni Vargas, na elucidação de assassinatos.

Debate Carajás: A maioria dos que passam pela delegacia são presos em função de que tipo de delito?

Vinícius Cardoso: A maioria das prisões em flagrante aqui na seccional são de violência doméstica, crimes contra o patrimônio, diga-se roubo e furto, especificamente, e tráfico de drogas; são os três que estão no topo da lista. É importante dizer que o número de agressores presos, nos casos dos crimes enquadrados na “Maria da Penha”, aumentou, mas isso não significa um aumento também dos casos de violência contra a mulher, muito pelo contrário, é a vítima que se encoraja a denunciar, o que pouco acontecia antes. Nesse aspecto, eu abro um parêntese para comentar a diferença entre homicídio e feminicídio, já que entramos, de certo modo, na questão da violência de gênero. O feminicídio ocorre quando há condição de gênero evidente na relação marido e mulher. E uma curiosidade: o feminicídio vale até mesmo para as relações homoafetivas entre duas mulheres, assim como a Lei Maria da Penha, que veio como forma de ampará-las, também serve para os homens no caso de possível violência no âmbito doméstico. Por outro lado, as mulheres também sofrem com o homicídio, desde que não seja constatada nenhuma condição de gênero no episódio.

Debate Carajás: Como o senhor analisa a questão da posse e do porte de armas pela população?

Vinícius Cardoso: Na minha visão, o processo de acesso da população a arma de fogo deve ser feito de modo demasiadamente criterioso. Os países em que há menos violência, países cujos indicadores de violência são os mais baixos, são os em que o porte, assim como a posse, são proibidos. Citam sempre os exemplos, como é o caso dos Estados Unidos, mas esquecem que os EUA são um país de primeiro mundo, com baixos índices de criminalidade, às vezes comparados com os de países de terceiro mundo. Então eu sou contra o acesso da população a arma de fogo, ressaltando que também deve haver um trabalho no sentido de impedir que elas cheguem a mãos erradas também.

21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, na Nova Marabá

Debate Carajás: Para finalizar, diga o tamanho do problema recebido pelo delegado Vinícius Cardoso quando assumiu a seccional e que medidas adotou para alçar a delegacia ao prestígio de que goza hoje.

Vinícius Cardoso: Eu recebi a direção da seccional das mãos da delegada Simone Felinto, que atualmente é titular da Delegacia da Mulher. Ela é uma profissional excelente, muito competente, e me entregou um trabalho muito bem feito. O que eu fiz foi, como não deveria deixar de ser, manter o que estava bom, funcionando, e desenvolver outras áreas, o que é natural de qualquer gestão. Eu recebi uma delegacia com muitos veículos apreendidos, então eu tenho feito um trabalho para encaminhar esses automóveis a leilão e, assim, desafogar esse acúmulo de objetos aqui na delegacia de polícia, além de reservar uma equipe somente para investigação e, dessa maneira, otimizar os índices de resolutividade. Isso, evidentemente, nos trouxe até aqui.

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