Altamira registra o triplo da média nacional de suicídios em 2020

CPC é acionado para remoção do corpo de um jovem em Altamira - Crédito: Reprodução/Agora Notícia

De primeiro de janeiro a 27 de abril deste ano, 15 pessoas cometeram suicídio no município de Altamira, no sudeste do Pará. Nove delas, segundo o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, da Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado do Pará (Segup), eram jovens entre 11 e 19 anos, uma tinha 26 anos e os outros cinco variavam dos 32 aos 78 anos.

Quem jogou luz sobre o assunto, essa semana, foi a jornalista Eliane Brum, colaborado do jornal El País. No texto “A cidade que mata o futuro: em 2020, Altamira enfrenta um aumento avassalador de suicídios de adolescentes”, a jornalista chama atenção para a necessidade de debate sobre o tema.

Antes, silenciado pela imprensa como forma de tentar evitar outros suicídios, mas que hoje ganha grande repercussão na internet e, sobretudo, mas redes sociais.

Com esse número de mortes, em menos de quatro meses, Altamira já tem quase o triplo da média brasileira anual de suicídios; e já igualou o número de mortes autoinfligidas registradas no município durante todo o ano de 2019.

A média no Brasil, segundo o DataSus, é de 6 suicídios a cada 100 mil habitantes. Em Altamira, a população é estimada em 115 mil pessoas. O que torna alarmante as estatísticas no município, mesmo diante do aumento geral do número de suicídios entre os jovens no país. Nas últimas semanas, sem apoio do poder público, movimentos sociais no município têm se movimentado para cobrar ações e buscar explicações para o fenômeno.

MAIS JOVENS

O crescimento do número de suicídios de adolescentes é um fenômeno do Brasil dos últimos anos. Entre 2011 e 2018, houve um crescimento de 10% nas taxas de suicídio entre jovens de 15 a 29 anos no país. O maior aumento ocorreu entre 2016 e 2017, segundo o Perfil Epidemiológico divulgado em setembro de 2019 pelo Ministério da Saúde.

Em todo o mundo, o suicídio já se tornou a segunda causa de óbitos de jovens, perdendo apenas para acidentes de trânsito, como mostram os dados da Organização Mundial da Saúde.

As razões desse aumento ainda estão sendo estudadas, mas uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) demonstrou que, entre 2006 e 2015, a taxa de suicídio entre jovens de 15 a 19 anos aumentou 24% nas seis maiores cidades brasileiras: Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Já nos municípios do interior do país o crescimento foi de 13%.

Como o aumento contrasta com a queda de 17% registrada no restante do mundo no mesmo periodo, uma das conclusões seriam os indicadores socioeconômicos, especialmente o desemprego e a desigualdade social. Não por acaso, em 2017, Altamira foi classificado como de “vulnerabilidade muito alta” pelo Relatório do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência, desenvolvido pela Secretaria Nacional de Juventude em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O munícipio registrou o segundo maior índice de vulnerabilidade, entre jovens de 15 a 29 anos, nos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. Vulnerabilidade associada ao menor acesso à escola e ao mercado de trabalho, e à maior mortalidade por homicídios, por exemplo. 

El País 

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